Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020




Queria cantar a canção da concórdia,
recitar versos em cujas entrelinhas
pudessem ser lidas palavras
como compreensão, paciência

Queria ler manuais que ensinam
a convivência com as diferenças
Ter consciência de que o novo ficou velho
E entender o contraste deles.

Devo ter pulado etapas
Faltado às aulas, por teimosia
E agora tento decifrar o que não entendo,
Por ironia hoje preciso ser entendido.

Queria cantar a canção da união,
do amor, mútuo e sincero,
A frustração queima a paciência,
O fracasso pesa e faz patinar.




domingo, 29 de julho de 2018

Deserto

Imigrantes

Somos todos imigrantes
Dalém, de longe, de perto,
Venho de outro deserto,
Tudo é velho, mas nada como antes.

Puxado e empurrado pelo vento
Em terras tão estranhas,
Outro dono, outro intento,
aqui como lá, ardem-me as entranhas.

Desértica, plana,
De alma vazia, insana,
Piso nela, mas não me olham,
não me veem, não me sentem.

Tudo é terra, tudo é gente,
Nosso caminho é permanente,
Não piso no passado ou futuro,
Minha terra é o meu presente.

Prisioneiros

Sigo prisioneiro de mim,
Meus medos minhas correntes,
Cerro meus portões, cego minhas vertentes,
Vejo-me seguro assim.

Alma presa, antigas culpas,
Entorpecem o olhar
Vestem-me com muitas tulpas,
Prendem o caminhar.

Doentes

Doente está a alma,
E o corpo não entende
Presa no deserto
Sem palavras, não explica nem ofende.

Mudou o deserto
O povo segue doente
Caminha prisioneiro
Distancia-se da mente.

Viajantes

Drapeja a bandeira lá no alto
Pelo vento que dá vida
Ao meu barco que exalto
Sem comando nesta lida

No porto em que fico
Vejo Deus na esperança
De um povo empobrecido
Do imigrante que avança

Arvoreço minha fé
No deserto ou no mar até,
Na chegada ou partida
Deus comanda a minha vida.

poesia inspirada no Salmo 107, a partir de uma mensagem proferida pelo pastor Iderval da IELB.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Fim de ano, ano novo

Li num artigo de Gabeira em Gabeira.com.br:
A sensação de revéillon é uma mistura da beleza da vida com sua finitude...

O que posso esperar para 2018?

sábado, 14 de outubro de 2017

A carta






Certa tarde um morador de rua, recebeu uma carta;
Andando pelas ruas do cais, tentou lê-la,
Mas a vida não lhe dera oportunidade de aprender...
Conseguiu identificar algumas poucas palavras,
E percebeu que era da sua família.
Família que não dava sinais havia anos;

Curioso, procurou a primeira pessoa a cruzar com ele na rua;
Pediu ajuda.
Ao pegar a carta com as mãos, o moço começou a ler silenciosamente.
O morador observava atentamente as expressões do rosto do moço,
Mas de repente, ele baixou as sobrancelhas  e fechou a cara;
Com certa brutalidade, devolveu a carta ao morador de rua,
Meio que empurrando-a contra o peito e saiu andando depressa
Sem dizer nada.

Sem entender direito, continou caminhando
Pelas ruas do porto, e encontrou uma mulher.
Talvez com ela tivesse mais sorte;
Ao menos poderia esclarecer o comportamento
Do rapaz anterior.

A mulher, sorridente, pegou a carta e começou a ler;
Logo depois, o sorriso sumiu e o semblante apreensivo
Surgiu seguido de uma fúria incomum.
O morador ficou sério e antes que pudesse perguntar algo,
Ouviu dela:
“O senhor não tem o que fazer não?”

Será que tinha algum palavrão?
Algum tipo de ofensa?
Os palavrões ele sabia ler bem.
Não tinha nada ali.

Encontrou mais 3 pessoas que enfurecidas reagiam:
“Como você foi fazer isso?”
“Onde você estava com a cabeça?”
“Não é possível! Não acredito que isso seja verdade!”

Sem entender absolutamente nada,
E quase sendo arrastado por um dos transeuntes
Para um carro da polícia que ali estava parado,
Desvencilhou-se recuperando a carta
E correu para o cais do porto,
Subiu uma rampa
Mas logo foi parado por alguns marinheiros:
“Alto lá!”
“Passagem proibida, mendigo!”
“Ta correndo do que?”

O morador se desculpou
E explicou sobre a carta
E que toda vez que dava para alguém ler
Ele quase era agredido.

Mas já tinha desistido e ia jogar a carta no lixo,
Quando um dos marinheiros pediu para ler a carta:
“Não, o senhor vai me xingar, vai me jogar aqui no mar.”
“Não vou fazer isso, juro!”
“Ah, deixa pra lá, já estou indo, obrigado!”
“Ei, espere, eu juro que não vou fazer nada,
Apenas vou ler em voz alta pra você”.

O morador, receoso concordou, suspirando,
E entregou a carta ao marinheiro para ler,
E se posicionou de lado por segurança.

O marinheiro pegou a carta,
Mas deixou o chapéu cair.
Ao se pegar o chapéu, ainda no ar,
Largou a carta, que, levada pelo vento
Se perdeu no mar abaixo da rampa....

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Praça bem frequentada, respeito, educação




Faltavam alguns minutos para as sete da manhã
Passei pela praça recém reformada
Calçamento novo e bancos convidativos
E uma pessoa estatura baixa
Varria o chão com uma folha seca de coqueiro,
Como imaginei, era um senhor japonês.
Voluntário como outros que apareceriam mais tarde.
Sentei e comecei a checar meu celular

Sem me dar conta, alguns idosos foram surgindo
Um a um me cumprimentavam
E me rodearam em torno do banco.

Guardei o aparelho
Pois havia sido tragado
Pela gentileza e pelas conversas
Todos eram experientes na vida.

O inconformismo era uma unanimidade.
Havia italiano, japonês, espanhol e eu, alemão.
Ah, no meu tempo...
Era o que eu mais ouvia.

De repente, chegou um senhor também japonês,
Com roupas esportivas,
E todos se despediram de mim
Me convidando para participar
Das atividades físicas matinais.

Praça limpa, bem frequentada,
Respeito e educação...
Tava sentindo falta disso!

quinta-feira, 20 de abril de 2017

recanto do guerreiro

Ah, doce folga.
Não fazer nada é a ordem.
O recanto do guerreiro será frequentado,
com churrasco e cerveja...


Não quero saber de farmácia,
afinal, estou de folga dos remédios...
Mercado? Hm, a dispensa dá conta
dos próximos dias...
A louça? Depois eu lavo...
Não saio de casa nem pra levar o lixo...
Cãozinho, meu querido,
que parte voce não entendeu do "não vou sair de casa"?
Pode fazer xixi pelos cantos
rasgar o chinelo que eu não ligo.
Tô de folga!

Minha amada esposa,
cancela a consulta
e vai de Uber pro salão.
Não, mãe, não vou almoçar aí,
Estou no canto do guerreiro
aqui em casa...
nossa! como é gostoso ficar aqui
Olhando pro nada!
Ninguém mexe na TV.
Vou ver a champions league!
Depois, video game...
Ok, o cesto de roupa suja tá um pouco cheio,
Mas vai ficar assim!
Tô de folga, a máquina de lavar também!

"Amooorrrr, acordaaa!!!!"
"Hã??"
"Levanta desse sofá e abre o portão, que mamãe chegou!"

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Com V ou com W?

Enquanto eu era atendido em uma loja por aqui, me lembrei de quando fui atendido em Minas:

-Qual seu nome?
-Wagner
-Bom dia, o senhor me diga seu nome, faz favor?
-Com "W" ou normal?
-Com "W", não seria também normal?
-Wagner é com "W"ou com "V"?
-Não, aqui normal é com "V".
-Ah, então meu nome é anormal??
-Nuossa, acho nomes com "W" lindo demais da conta sô.
-Aqui, todos são com "V". Vai querer cpf?
-Não, aliás to desistindo de comprar também.
-Quando eu tiver um filho, vai se chamar Waltair, com "W"... é o nome do meu avô, sabe!
-Pode deixar aqui mesmo então. Próximo!!
-Enquanto eu faço o pacote, toma um cafezinho ali no balcão, cortesia da casa.. Ah, é pra presente?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A pior mãe

O semáforo fechou e eu parei no meio fio
Dei um passo atrás retornando à calçada
Do meu lado, um grupo de meninas
Com não mais de 13 anos;
Tudo novo,
uniforme da escola,
pulseiras, celulares,
cabelos, peles, unhas...

Disputavam entre si
quem tinha a pior mãe:
- Minha mãe inventou de abrir meu armário
pra encontrar roupas que eu nem uso mais...
- Ah, a minha deu de querer limpar meu quarto todo dia!
- Não, e a minha mãe que agora fica entrando no meu quarto
mexendo nos meus brincos e anéis, pior,
fica conversando comigo o tempo todo,
e reclama do MEU celular!!!
- Pois a minha fica ligando e nem tem assunto, tipo, oi?! oi! e então?!

Enquanto eu absorvia todo aquele falatório ligeiro,
o som ia sumindo... e o semáforo estava fechando de novo!!!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

cor

Vida és tão bela
Me faz sentir
Em uma aquarela
Cores sem fim
Tons de gratidão
Por nítido amor
Brilho que realça
A obra do Criador

sábado, 26 de novembro de 2016



Anos 50

Hard bop? Jazz latino?
Um copo meio cheio?
Meio vazio?

Passou! Só sei que passou.
Não sei ao certo como.

Foram-se brincadeiras e descobertas,
Paixões e valentias...
Só sei que passou... e como!

Acumulei alguns amigos
e muitos não-amigos.
Já os inimigos... bem, estes são mais que amigos, querem ser eu.
Passou, enfim, como?!

Meio século, meia vida, ou quase toda,
A magia dela, é a morte,
E a morte é a continuação...

Não cumpri Gênesis 9 nem mudei ou dominei o mundo.

Aqui estou, isso eu sei,
Com um copo meio cheio ou meio vazio,
Mas desta vez com um bom vinho.


Certa vez, um escritor, Luiz Fernando Veríssimo escreveu algo que aprendeu na vida: (adaptado)

“Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

Não confunda sua carreira com sua vida.

A razão pela qual a raça humana ainda não atingiu todo o seu potencial, chama-se “reuniões”.

Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais, construiu o Titanic.”

Kim e Alison McMillen escreveram um livro que só foi publicado depois pela filha:

“Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre, desisti de fazer grandes planos, e abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é saber viver a vida...
Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes. Hoje descobri a humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez, plenamente.”

domingo, 6 de novembro de 2016

O flanelinha

Andando por uma rua a noite, com carros enfileirados nos dois lados,
procurando em vão um lugar para estacionar o meu
vi alguns flanelinhas gesticulando freneticamente querendo indicar algo... uma vaga.

Mas um me chamou a atenção, pela sua tranqulidade
usava um chapéu estiloso,
terno e gravata ainda que desgastados
o sapato brilhava na luz laranja do poste
e um cachecol xadrez e azul escorria pelo peito
em cima de uma camisa social preta.

É, cada um fazendo o seu melhor...

Minha mulher grudada ao espelho do quebra-sol
ajustando a maquiagem,
como se toda sua beleza não fosse suficiente,
olhei para minha roupa e cheguei à conclusão
que eu não estava à altura de mim mesmo...

Uma buzina veio de trás,
quando me dei conta aquele flanelinha de chapéu
bateu na minha janela,
baixando-a, a pergunta veio direta:

-Vai estacionar ou não, chefia?


wk

sexta-feira, 29 de julho de 2016

olimpíadas de 2016, velhos desafios... no texto.

Talvez eu esteja um pouco mais ácido que o normal esta manhã mas, vá lá:
Estava dando uma passada nas manchetes de alguns jornais,
e me deparei com uma na folha de s. paulo:
"conheça quem são os estrangeiros que podem "roubar" as medalhas dos brasileiros".
Bem, seguindo,
"roubar" não é uma expressão exata e adequada.
Neste país, onde agências de correios estão sendo fechadas
devido a assaltos constantes,
o termo "roubar" pode até ser comum, quase normal,
(mas não é),
muito mais estranho e inadequado o será, quando aplicado a atletas estrangeiros.
Aliás, a maioria das medalhas caberão aos estrangeiros mesmo.
Salvo algumas exceções, que nos dão alegria,
o normal mesmo, será identificar quem são os brasileiros que podem "roubar" as medalhas dos estrangeiros.