Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A igrejinha

Era uma igrejinha à beira da estrada, sem vizinhos por perto.
Mas na hora do culto, apareciam fiéis pelos campos
E logo lotavam a pequena construção caiada pelos próprios irmãos
na última campanha da comunidade.
Entrei e assisti o culto. Pessoal simples mas organizado.

Ao sair, caminhei à beira da estrada
Pegando meu cartão de banco do bolso...
um caminhão passou muito perto
em alta velocidade
causando um deslocamento de ar
que me desequilibrou e soprou o cartão de minha mão
e o vi planar barranco abaixo até cair num córrego
Acompanhei-o com os olhos para não perder a coordenada
do ponto exato onde quedaria o cartão.

Desci rápido, mas ao chegar no rio fétido,
tudo parecia diferente e a coordenada que memorizei
lá em cima não me valia mais.
Meio sem coragem de molhar as mãos
fitava aquela água cinzenta tentando ver
algum sinal do meu dinheiro plástico.

De repente ouvi um barulho atrás de mim.
Uma senhora de cabelos brancos e coquis bem amarrado
uma saia azul antiga e surrada
com uma bíblia na mão, me disse:
- Rapaz, voce procura por algo?
- Sim, meu cartão do banco caiu por aqui. - Respondi
voltando a olhar para o rio.
Ela continuou:
- Voce devia procurar mais por Jesus e não pelo dinheiro.
Respirei fundo e não disse nada.
- O senhor devia ir à igreja, ela continuou.
Ainda olhando o rio, pensei em retrucar a senhora,
mas entendi o interesse em evangelizar.

Relevei, afinal, eu sempre vou à igreja, sou líder e faço diversos trabalhos lá.
Até presidente da congregação já fui.
Mas como explicar a ela tudo isso exatamente ali, na beira daquele córrego
fedido e que eu precisava do cartão para tirar dinheiro e voltar pra casa?!

Eu permanecia agachado pensando nessas coisas
e rastreando com os olhos aquelas águas turvas.
Ela me pos um folheto sobre meu joelho.

Olhei para o papel um pouco enrolado que dizia:
"Vinde a mim"

Alguns segundos depois me virei para a senhora para agradecer
mas não a vi mais.
Perdi a respiração, me virei levantando e olhei barranco acima,
para os lados... e, nada daquela senhora!!!

Apenas o folheto que havia caído ao me levantar
seguia boiando rio abaixo...