Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



terça-feira, 29 de dezembro de 2015

pulando a poça - quem nunca?

Ele tinha apenas 4 anos e seguia com seus pais de mãos dadas até a padaria.
Tinha chovido e o melhor era usar aquelas galochinhas,
à prova de qualquer destruição pelas crianças.

Felizmente ele tinha herdado o bom humor do pai
E aquela carinha sorridente mesmo quando estava sério
parecia incomodar a mãe que entrou na padaria
murmurando e com cara de poucos amigos.

"Senta aqui e não reclama, o que você fez foi muito feio",
ela falava rispidamente com o garoto
puxando-o pelo braço e ajeitando-o no banco, para adultos,
com a delicadeza de um hipopótamo.

O pai se dirigiu ao balcão para pedir os lanches
e apenas observava silenciosamente,
enquanto a mãe espumava brabeza
mirando o garotinho que não escondia o sorriso...

"Tá rindo é? vamos ver em casa depois"
-Mãe, eu quero...
-Vai comer o que a gente quiser... não tá merecendo, interrompeu.

Sem contestar, o garoto pegou seu joguinho no bolso
e pôs sobre a mesa.
A mãe olhava soltando raios pelos olhos:
"Eu devia pegar esse joguinho de você."

Enquanto o garoto apoiava o queixo sobre a mão na mesa
alinhando com os dois braços à frente do joguinho,
a mãe começava a enxugar a barra de sua saia
completamente molhada e resmungou:

"Eu devia fazer ele sentar na poça d'água
quando pulou com essas botas me molhando toda!"

Podia-se ler na testa do pai, de pé, apoiado no balcão
vendo e ouvindo tudo em silencio com leve sorriso:
"Esse é meu garoto..."

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

prospectivas

A mídia é especialista em retrospectivas dos anos que se vão.
Mas, e as "prospectivas"?

Eram 5h da manhã, com algumas manchas de azul claro surgindo ao leste no céu escuro ainda.
Estacionei meu carro em frente a um bar, do outro lado da rua,
em um recuo de uma farmácia fechada ainda,
com seu portão de aço de enrolar,
e nele o farol do carro iluminava "proibido estacionar"...
Bem abaixo dos dizeres, um amontoado de papelões
ficou bem próximo ao para-choque do meu veículo.
Desliguei o carro mas com os faróis ainda acesos
pude ver um braço emergindo no meio daqueles papelões
sujo, com a manga rasgada, punho cerrado,
gesticulando para o alto.
Assustei e me dei conta de que havia uma pessoa
por baixo daquele "cobertor feito de celulose"...

Ele estava incomodado com a brutalidade minha
ao estacionar o carro e com a luz dos faróis diretamente
em seu leito, seu pequeno canto onde esperava
ter um pouco de paz para dormir.

Paz esta que interrompi bruscamente...

Apaguei os farois desci do carro, e me dirigi ao bar
atravessando a rua deserta ainda, com algumas pessoas noctívagas,
e outras madrugadoras, como eu, andando depressa...
Alguns cambaleavam e se abraçavam.
Pude ouvir ainda aquele importunado dos papelões resmungando alguma coisa
mas não dava pra entender.

Chegando no bar, no balcão já estava o de sempre:
Café com leite e um pão com manteiga.
Canoa francesa na chapa, como costumavam dizer por lá.

Duas mulheres conversando com forte sotaque nordestino,
me chamaram a atenção atras de mim,
Sentadas a uma mesa de fórmica amarela:
"não vou nunca mais a essa 25 de março."

Até o próximo ano, pensei comigo.

Paguei a conta e voltei ao carro.
Os papelões haviam sumido!
Olhei para os lados mas não vi nada.

E eu nem o convidei para um café!


segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

hoje é natal

É noite em Belém
e em certo lugar nasce Alguém.
O mundo não sabe, 
ou, mesmo que saiba, esquece
dAquele que foi prometido, que foi prometido.
 
Pessoas o visitam,
trazendo-lhe presentes: elas sabem
onde está, onde está o menino.
 
O Menino nasceu: nasceu Jesus!
Hoje é natal, hoje é Natal!
Mas, onde está o menino?
 
No sorriso dos lares,
na terra, nos mares ou no céu.
 
É noite de Natal, 
Natal não em Belém, mas onde estou. 
O mundo festeja, mas, onde está o menino?
 
No berço deitado,
no trono ou na cruz... onde está Jesus?
 
Hoje é dia de Natal!
Sem berço e sem presentes,
sem magos e sem menino.
 
Hoje é Natal. Natal no coração
de quem conheceu, de quem conheceu,
não o menino, mas, o Salvador .  
 
Hoje é Natal, hoje é Natal, hoje é Natal!
 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

IPhone

Em uma loja da apple, aguardava ser atendido, para consertar um carregador
e observava alguns produtos na prateleira entre muitos...
pessoas entravam com seus olhos brilhando,
 buscando algo... Celular parecia ter a preferência.

Um casal entrou, ele, de Bermuda Azul, camisa polo branca, meias curtas e tenis multicolorido
falando alto, puxando pela mão quem eu julgava ser sua filha...
Mas, ao chamá-lo de amor, vi que me enganava.
Ela vestia marcas. Sua bolsa LV com alças de corrente dourada, em seu braço que trazia pulseiras douradas usava uma blusinha branca cavada no ombro, tocados pelos seus grandes brincos de argola.
Saia bege, curta, com brilho nas laterais, pernas grossas e sandálias de tiras que amarravam quase até o joelho.
Enquanto ele falava para os quatro cantos da loja que, na sua empresa, ele só usava Apple trazido do exterior e que nunca teve problemas e agora tinha um comprado no país e já culpava todo tipo de politico pela situação da moeda nacional, ela sacava seu cellular que mal cabia na palma de sua mão, de corpo dourado e o colocou sobre o balcão.
O atendente digitava freneticamente algo ouvindo a fala dele: "Esse celular dela não aguentou uma queda!"
O atendente examinou pegando cuidadosamente da mão da dourada cliente que mascava um chiclete olhando para outros modelos na prateleira.
"Meu amor, já é o terceiro cellular que eu compro pra voce e já estamos aqui de novo!!!"
O atendente sorriu: "Moça, não tem uma capa? elas ajudam a proteger o equipamento."
"Capinha eu? num IPhone?" perguntou indignada.
"Um aparelho lindo desse, caro, se eu por capa como as pessoas vão..." Ela interrompeu sua fala olhando pra mim percebendo que observava tudo atentamente, e muito provavelmente com uma cara de reprovação que eu gostaria de não me ver.
Felizmente chegara a minha vez e o técnico me chamou para ver meu carregador.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A igrejinha

Era uma igrejinha à beira da estrada, sem vizinhos por perto.
Mas na hora do culto, apareciam fiéis pelos campos
E logo lotavam a pequena construção caiada pelos próprios irmãos
na última campanha da comunidade.
Entrei e assisti o culto. Pessoal simples mas organizado.

Ao sair, caminhei à beira da estrada
Pegando meu cartão de banco do bolso...
um caminhão passou muito perto
em alta velocidade
causando um deslocamento de ar
que me desequilibrou e soprou o cartão de minha mão
e o vi planar barranco abaixo até cair num córrego
Acompanhei-o com os olhos para não perder a coordenada
do ponto exato onde quedaria o cartão.

Desci rápido, mas ao chegar no rio fétido,
tudo parecia diferente e a coordenada que memorizei
lá em cima não me valia mais.
Meio sem coragem de molhar as mãos
fitava aquela água cinzenta tentando ver
algum sinal do meu dinheiro plástico.

De repente ouvi um barulho atrás de mim.
Uma senhora de cabelos brancos e coquis bem amarrado
uma saia azul antiga e surrada
com uma bíblia na mão, me disse:
- Rapaz, voce procura por algo?
- Sim, meu cartão do banco caiu por aqui. - Respondi
voltando a olhar para o rio.
Ela continuou:
- Voce devia procurar mais por Jesus e não pelo dinheiro.
Respirei fundo e não disse nada.
- O senhor devia ir à igreja, ela continuou.
Ainda olhando o rio, pensei em retrucar a senhora,
mas entendi o interesse em evangelizar.

Relevei, afinal, eu sempre vou à igreja, sou líder e faço diversos trabalhos lá.
Até presidente da congregação já fui.
Mas como explicar a ela tudo isso exatamente ali, na beira daquele córrego
fedido e que eu precisava do cartão para tirar dinheiro e voltar pra casa?!

Eu permanecia agachado pensando nessas coisas
e rastreando com os olhos aquelas águas turvas.
Ela me pos um folheto sobre meu joelho.

Olhei para o papel um pouco enrolado que dizia:
"Vinde a mim"

Alguns segundos depois me virei para a senhora para agradecer
mas não a vi mais.
Perdi a respiração, me virei levantando e olhei barranco acima,
para os lados... e, nada daquela senhora!!!

Apenas o folheto que havia caído ao me levantar
seguia boiando rio abaixo...

terça-feira, 28 de julho de 2015

É nóis mano, É Deus!

Vou transcrever aqui um papo que tive:

- Aí, chefia, tudo certo?
- Maravilha, e aí?
- Seguinte, to com uma proposta e vou passar a bola pra tu:
- Manda!
- To com uns papo aí, da minha mãe, entende? Ela quer que eu vá a igreja, para tipo, pedir perdão...
- E?
- Ela tá certa andei fazendo merda...
- Hmmm...
- Mas voce que é um cara letrado, chegado no que é certo me responde, francamente:
- Pergunte:
- Eu preciso ir a igreja pra pedir perdão?
- Não!
- Foi o que eu pensei... mas, por que então ir a igreja?
- Isso já é outra pergunta?
- (Rsrsrs) Na verdade faz parte da primeira.
- Bom, mano, to feliz por tu, que já sabe o que é certo e errado, porque percebeu que tem que pedir perdão, certo?
- É, o bagulho foi feio...
- Então, eu te digo o que eu penso: Voce deve pedir perdão a Deus
- Pois é, eu sei, mas, tenho mesmo que ir à igreja?
- De novo essa pergunta e eu repito: Nào! Fale com Deus na sua casa, sozinho, ore, reze a Ele, diga o que você fez e peça perdão.
Dando de ombros: - E??
- E tenho certeza de que ele te perdoará, por mais feio que seja o bagulho.
- E será que vou ficar tranquilo?
- Voce tá arrependido?
- Ô, to fora, não dá pra ficar errando assim não.
- Pois é, quando a gente cria uma obra de arte, a gente não deixa de curtir e cuidar dela, e fica muito triste se algo der errado com Ela.
- É, já fiz algumas nas paredes dá um sentimento aqui no peito, mano, muito legal ver aquelas pinturas, me entende?
- Pois então, Deus te criou, você é obra de arte dele, ele não para de te curtir um só instante, e está preocupado com o que anda acontecendo contigo.
- Então, é só isso? Nada de igreja?
- A igreja é outro capítulo que explico outro dia. Por enquanto, trabalhe isso que falamos hoje nas tuas ideias.
- Tá vendo? Falei? Doutor aí, ponta firme. Valeu!
Botei o capuz que nunca tinha usado da minha jaqueta de trabalho por sobre a cabeça:
- Bota fé em mim não, mano, eu não te perdoaria como Deus te perdoa e ama. Fale é com ele.
Saímos em direções opostas, apontando o dedo indicador um para o outro.

terça-feira, 21 de julho de 2015

a janela

Peguei o lotação
sentei ao lado de uma senhora
muito simples, cabelos longos
pele surrada pelo sol
bolsa preta desbotada
nenhum brinco ou colar;

Seu celular tocou
não era smartphone,
um modelo antigo
desbotado tecla apagada...
desloquei o olhar
e foquei lá fora
na janela, lojas passavam
luminosos, propagandas
palavras em inglês,
O lotação cortava um bairro chique


"Alô!" E minhas observações
foram interrompidas pelo celular da senhora:
"Oi meu filho, to bem sim."
Rosto simples de mãe
cansada de trabalhar...
Na janela, alfaitaria, doçaria
Redes de lojas
Descontos "Off"
"Sim, meu filho, já to indo pra casa"
Descontos "Off", repeti...
"não, ainda to no segundo ônibus"
Marcas italianas roubavam meu olhar
À medida que passavam pelo vidro
"Depois no terminal pego o metrô"
restaurantes, bancos, mais luminosos...
"depois pego outro ônibus meu querido.. sim, de novo"
Uma mulher vestido longo
passeava com um maltês
"esquece o tequila depois eu dou comida pra ele"
seria o cachorrinho dela??
"Sim, mamãe também ta levando uma carne pra janta"

Farol fecha!
Um BMW ainda passa no vermelho
causando um susto,

"Olha só, escute... peraí.
vai dando banho no seu irmão..."
mas não naquela senhora...
"Só vou chegar daqui umas duas horas e meia... isso"
No fundo agências de bancos, lojas e pet shops
"Não tem como filho, dê banho no seu irmão"
aquele mundo que passava na janela...
"pegue a roupa da primeira gaveta"
e esse mundo real desta senhora...
"não esquece o lanche dele"

sabe-se lá onde morava...
"Tá, olha to ficando sem crédito"
as ocupações e preocupações...
"qualquer coisa chama a luciene,.. é a vizinha ta bom?"
Manobristas nas calçadas,
abriam portas pras madames
"Tranca a porta e não atende ninguém viu meu filho?"
em salões chiques de cabeleireiros com nomes estrangeiros...
"Espera que a mãe chega logo ta..."
carrões ocupavam as ciclofaixas com suas manobras
"Tchau meu filho, Deus te abençoe e mamãe também te ama... tchau..."

sexta-feira, 8 de maio de 2015

tempo tempo tempo...

O tempo é mesmo relativo.
Meu turno de trabalho, que começa bem cedo e vai até às 14h
naquele dia só me livrou às 15h30...
dia longo pra quem levantou às 4h40.

Saí correndo, peguei o trem bem cheio de ambulantes,
desci na estação das farmácias, caminhei e
comprei alguns remédios que minha mãe me encomendara.

Segui um pouco mais a pé, na mesma calçada,
suja, cheirando a milho verde e pamonha frita na manteiga
e entrei numa relojoaria para deixar um de pulso para conserto.

Passei na banca para ver as manchetes do dia
que até então não parara para me inteirar
sobre o que, a essa altura do campeonato,
já eram velhices...

Atravessei a avenida, e entrei numa padaria
para um rápido café e pães...
Cheguei então ao barbeiro, onde há anos venho
para cortar cabelo mas não a barba;

E entrar neste salão é como enfiar a cabeça numa janela do tempo,
pois tudo está ali desde os anos 60...
Os mesmos potes de vidro de loção bozzano,
a pedra pomes e a tesoura serrilhada...
o rádio que nem ponteiro tem mais,
mas também não precisa porque só se ouve uma rádio.

mas hoje ele estava desligado, notei...
O som vinha de algo inovador.
Da tv, uma velha televisão,
 com um modem de tv a cabo embaixo dela
Na tela, uma sequência de canções do canal de músicas:
"Sentimental demais" era a que estava tocando
E a voz inconfundível de Altemar Dutra;

Quanto tempo não o ouvia...
Sentei-me à cadeira apoiando meus pés numa placa de ferro
de marca "ferrante", e comecei a imaginar
o que havia na época dessa música, anos 60...
"Sentimental eu sou..."

Nasci nos anos 60,
Beatles, homem na lua,
Golpe militar, Kennedy e Jânio Quadros,
o nascimento do chip...

De repente, abri os olhos
sentindo um cutucão nos ombros:
"Veja se ficou bom" me disse o veterano barbeiro...
Mas já?? Haviam se passado 30 minutos,
paguei-lhe o serviço, me agradeceu,
peguei minha sacola, o saco de pães e o guarda-chuva
e saí meio sonolento, parando na calçada
e olhando para os dois lados tentando lembrar
o caminho de volta;

Chegando na esquina, me dei conta
de que não havia trazido nenhum guarda-chuva comigo antes...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

nem tudo termina em boa pizza

Enquanto ele dirigia pra casa, o celular tocou!
- Alô?
- Oi
- Oi amor, sou eu. O que voce sugere pra gente comer hoje a noite? Eu pensei em pizza..
(Que opção restou pra mim??) - Ah, amor voce leu meu pensamento!
- Ah que bom, que sabor voce quer?
- Ah benzinho, não tendo frango nem milho, pra mim ta bom!
- É que eu pensei em algo leve sabe?
- Sim, sempre cuidadosa...
- Então, tem a portuguesa, quatro queijos...
- Pode ser amor, é que eu to dirigindo agora, não dá pra falar muito...
- Tem uma à moda da casa que dizem que é muito bom. A vizinha aqui do lado fava me falando que vale a pena e não é cara...
- Fechado!
- O que?
- Nada, o sinal aqui fechou, mas pode ser essa.
- Qual?
- Essa à moda da casa.
- Mas ela é meio pesada, mas se voce prefere tudo bem.
- Peça metade dela e metade de outra que vc preferir.
- Eu queria mesmo é aquela, como chama, toda verdinha, com tomate?
(E parado num sinal eis que um guarda faz um sinal de reprovação)
- PUTA MERDA!! (multa)
- Seu grosso!!!
- Não, não foi isso... essa que vc pediu ta ótimo.
- Olha, vc ta fazendo pouco caso de mim, não vai reclamar depois, seu ingrato.
(silêncio)
- Amor, tudo bem, é que eu to dirigindo e um agente da cia...
- Ridículo! Agente da cia, kgb, o escambal, sempre tem uma desculpa pra não falar comigo no telefone, tudo bem, eu peço aqui e vc vai ter que comer...
- Ta bom, amor, só não queria.... - Desligou!!!
Morto de fome, depois de um trânsito horrível, abro aquela tampa redonda de papel, pronto para devorar um pedaço de...
FRANGO COM CATUPIRY, MILHO E ERVILHA!!!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

dia-a-dia sem ela

Zé da Banca me confidenciou:
Eu não acredito nessa falta d’água.
E se for, que mal há? tudo é passageiro nessa vida, menos o motorista…
Eu levanto de manhã… bem…
posso limpar meu rosto naqueles lenços molhados de farmácia…
sai lá um pouco de gasto mas….
Escovar os dentes é mais difícil;
mas, a gente toma logo um café e o gosto ruim da boca se vai…
Hm, fazer café? Água mineral sô.
A garrafinha ta mais barata que a xícara de café na esquina...
É trocar de roupa e bora trabalhar….
A cueca dá pra usar de novo mas as meias…
melhor ir sem mesmo….

A mulher em casa é quem reclama
pra tirar a maquiagem,
fazer o feijão, lavar a panela,
a roupa, os panos pra limpar a casa...
Meu carro fica sem lavar mesmo.
Mas outro dia faltou água no radiador e cade torneira molhada pra eu encher???
No caminho de hoje não é que furou o pneu?
Bom, trocado o rumo é da roça
E cá estou eu trabalhando…
vai querer levar?
(E me mostrou um cacho de banana com as mãos inda sujas de graxa e terra)

quando o tempo tomou meu tempo

De fato, ele diz e mostra muitas coisas,
explica e faz entender o inexplicável
O tempo mostra a verdade
e espalha a sabedoria
O tempo me ajudou muito
e muita injustiça se converteu
no regalo proporcionado por ele
Mas o tempo, tomou o meu tempo
Me levou meus dias, horas e minutos
para provar e comprovar o que sempre soube
para aprender aquilo que eu recusava como certo
para aceitar como relativo o que era absoluto…
Agora tudo consome meu tempo
Porque o tempo é linear…. a vida não.
wk

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

brahma ou skol?

Numa tarde dessas de calor insuportável,
tentando me esconder do sol implacável
podia ver um ovo fritar no chão quente,

procurei um bar para tomar uma cerveja
mas tinha que ser um simples bar
daqueles com azulejo antigo,
branco e assentado na diagonal, até a 1,80m de altura na parede....

Em um bairro tradicional não foi difícil encontrar.
Logo o balconista com um pano de prato úmido no ombro
interrompeu sua conversa com outro companheiro do outro lado do salão
E com forte sotaque baiano perguntou:
- "O que manda meu rei?"
- "Uma cerveja, bem gelada, amigo," respondi.
- "Brahma ou skol, meu rei?"
- "Brahma."

E o balconista retomou seu diálogo:
"... Porque o bom baiano mesmo não se atrasa."
- "Não se atrasa? É porque você não conhece o Zé."
- "Mas veja o Mendonça. Ele nunca se atrasou. Ele chega mais cedo
pra conhecer o local, pra se adaptar e depois começa a trabalhar."

E, à distância, com a geladeira aberta, gritou pra mim:
"Brahma ou skol, meu rei?"
-"É Brahma!" respondi com o mesmo volume de voz.

- "Mas ele começa meia hora depois do marcado," retomou o outro.
- "Mas não chegou atrasado. É isso que você tem que entender de nós baianos."

E chegando ao balcão onde eu estava,
com a cerveja dentro daquelas formas que,
teoricamente mantém a bebida gelada,
abriu a garrafa e me interpelou:
-"O bom baiano não se atrasa, só faz a coisa certa no tempo certo! Taí meu rei"

E com habilidade, abriu a garrafa e ao mesmo tempo, deixou um copo ao lado.
A tampinha caiu no meu colo, e agarrei-a com a mão:
Era skol!!!


o que havia na mochila


Estava em um carro do trem que ia para a zona leste no metro hoje...

eram 6h da manhã.
E entrou uma menina, sozinha
cara de moleque, corpo de moleque, 11 anos, 12 no máximo,
com uma camiseta branca da escola pública muito amarelada e amassada
bermuda escolar e tenis desamarrados sem meias.
Pele bem morena mas o cabelo loirinho loirinho e bem desarrumado.
Mal pude ver seus olhinhos verdes.

Ela entrou e sentou,
nem penteara o cabelo
na verdade, parecia que não penteara havia alguns dias
muito menos lavara o rosto...
Pos a mochila no colo
segurando-a com uma mão
abriu o ziper e enfiou a outra dentro dela para retirar algo,
talvez um fone de ouvido
mas de repente ela parou;
Vi que os olhos apontavam para a mochila
mas a mão não saía de lá...
O que teria a pobre menina encontrado naquela mochila?
Seja o que for, a deixou pensativa
porque nao se mexia nem mesmo seu rosto cabisbaixo
mirando a surrada mochila...
Estaria apalpando um objeto ou esquecera um caderno?
Ou trouxera algo desnecessário?
Mas ficou 3 minutos imóvel
E eu também, só imaginando o que ela teria encontrado
com a mão naquela mochila surrada e toda rabiscada.
Eu estava disposto a não descer na minha estação
mas esperar que ela tirasse da mochila o objeto
que a paralisara por longos agora 4 minutos...
De repente, como se levasse um choque
ao ouvir o alarme de fechamento das portas do trem
ela largou a outra mão de fora da mochila
e enxugou a baba no canto de sua boca
e levantou os pesados olhos
e olhou pra mim respirando fundo e ao mesmo tempo levantando a sobrancelha:
Tinha cochilado. E eu, perdi a estação!