Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

1,2,3

Tudo está aqui dentro,
a imagem, as palavras, a música
Externá-las é a arte de conviver
em harmonia consigo e com o próximo...

wk

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Dial da vida

Um certo dia acordei e o rádio já não era mais o mesmo...
Outro programa, outra voz, e as ondas não mais traziam
O que sempre me trouxeram
Cada dia que eu me lembro em vida...
Olhei para meus braços, me belisquei
Talvez não tivesse acordado
Ou talvez sonhado que acordei com sons de uma outra rádio...

Mas era real, e tudo o mais
Me esperava como ontem, antes de ontem,
E tantos dias, meses e anos me esperaram...
Mas se o rádio mudou naquela manhã
Inesperadamente,
Eu também podia dizer ao dia
Eu vou mudar hoje.
Começando pelas mais simples
Até onde não sei...

Não saí correndo como sempre faço
Mas preparei para mim uma mesa de café
Que nem eu sabia que tinha em casa
Deixei o elevador e desci as escadas do prédio
Surpreendi o porteiro com um bom dia!
Atravessei a rua e fui pela outra calçada

Quantas imperfeições haviam ali...
Mas quantas árvores também haviam sido plantadas...
Não tomei o ônibus, mas fui a pé até a estação do metrô
Embarquei não no primeiro, mas no último carro do trem...
Quanta gente diferente...

Aquele senhor sentado se apoiando na bengala,
Aquela criança de uniforme escolar se segurando nas pernas da mãe
Aquele engravatado teclando um celular freneticamente,
Aquela moça curtindo uma música no fone de ouvido,
Eu nunca tinha visto isso no primeiro carro do trem!!!

Desci, atravessei a avenida e,
De súbito, recebi um bom dia!!!
Não vi quem era, e o vento
Refrigerava a alma enquanto caminhava...

Quando voltei pra casa, liguei o rádio...
E pela primeira vez, em anos, mudei a estação,
Como no tempo tem a estação das flores, das folhas, do sol e do frio... 
Quando me dei por mim, tinha mudado pra melhor.

É... foi um bom dia.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Como voce decora sua vida

Enfastiado, casa bagunçada, sem forças ou ânimo,
para até mesmo guardar alguns pertences
e deixar meu cômodo um pouco aceitável,
ou lavar a louça de dois dias na pia,
uma cadeira precisando de conserto
e uma porta do armário que não fechava mais,
saí a andar e observar.
Observava mas não enxergava
Enxergava mas não via..

Um amigo de longa data ligou,
E pediu para ajudá-lo na organização de alguns livros,
Contrariado, fui até sua casa, distando cerca de uma hora de caminhada.

Já escurecera, quando chegara,
Era uma bela e grande casa
Fachada extensa, rua tranquila
calçada de bom recuo
portão e cerca com não mais de um metro e meio de altura,
belo jardim na frente e um longo caminho de pedras
ligava o portão até a porta principal de entrada

Estava tudo completamente apagado, exceto uma luz, a meio fio,
no canto da parede externa.
Fiquei pensativo, não havia ninguém na casa?
Então por que recebi o telefonema pedindo que viesse até aqui?

Após alguns minutos parado em frente ao portão
Um estalo na tranca fez com que a trava eletrônica
abrisse alguns centímetros e eu entrei pelo portão.

Caminhei até chegar à porta de entrada da casa
E, à medida que eu entrava,
sensores ativavam sons como que da natureza
indicando que alguém passava por ali
como um alarme sonoro.

Algumas luzes se acenderam na porta de entrada
De repente, dei um suspiro e relaxei,
lembrei  que meu amigo é cego
E tudo passou a fazer sentido.

Entrando na casa luzes se acenderam automaticamente
e me deparei com a presença dele ao lado
com as mãos estendidas para me dar um abraço de boas vindas.

Sua sala era impecavelmente limpa e linda.
Repleta de adornos cuidadosamente colocados
e combinando com os móveis
tapetes e uma lareira no canto à direita.
Lustres, sanca, quadros, cortina, aparadores com vasos discretos,
flores aromatizando o ambiente,
tudo combinava, alegrava e animava.

Perguntei, qual é a sensação de ter tudo tão belo e não poder ver?
Meu amigo, respondeu ele, tudo à minha volta reflete a minha vida
Não sei se o que está vendo de fato, é belo,
Mas é exatamente como é a minha vida.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Uma biblioteca em cada favela

Enquanto lia e folheava dois livros sobre fotografia
numa biblioteca municipal, neste mes de férias,
o silêncio foi quebrado...

Quatro crianças entraram correndo,
descalças, sujas, nada mais que um calção e uma camisa
rasgados, se desprendiam do corpo com o trote infantil salão adentro.

Com um papel e alguns lápis sortidos nas mãos
correram em direção à uma mesa no fundo
gritando eufóricas, cercadas por prateleiras de livros
no canto infantil da biblioteca.

Pude ver na porta de entrada as pipas largadas
ao chão deixadas por quem se interessara
por novos ares, ventos que traziam
conhecimento, saber, diversão
um mundo novo a cada página, a cada desenho...

Aquele som das crianças combinavam tanto
com o silêncio dos livros,
que quando elas foram embora
fiquei com vontade de pegar alguns livros
e correr atrás deles...

E vi pelo vidro da janela
um céu azul e quatro pipas coloridas
voando e dançando novamente...
E o silêncio voltou a reinar na biblioteca

(no centro cultural de jabaquara, biblioteca Paulo Duarte)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Recomeçar

 
Quando é hora
De fazer uma nova canção?
Quando é hora
De tirar os pés do chão?
Quando é hora
De olhar com sorriso infantil?
De correr feito criança,
Acelerar o peito a mil?

 Não deixar a hora, o minuto
O segundo (sisudo) te encarar
Mergulhar na vida e ver
As ondas (que ela vai) propagar
Toda hora é agora
De não ver o tempo passar
Todo momento é o certo
Para o incerto recomeçar

A vida é agora, e o momento (já) está sendo
Deus não lher quer sofrendo (assim) Seja o menino, a pipa, o vento
Saia correndo (sem norte, sem fim) Chute o seu calcanhar
Pegue um jornal e dobre a esquina
Toda hora é certa
De seguir (em frente) e fazer sua sina...
 
(Pra depois, no futuro
ter um dia, para onde voltar)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Espanhola

Por tantas vezes
Andei mentindo
Só por não poder
Te ver chorando


Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Se for chorar
Te amo


Sempre assim
Cai o dia e é assim
Cai a noite e é assim
Essa lua sobre mim
Essa fruta sobre o meu paladar


Nunca mais 
Quero ver você me olhar
Sem me entender a mim
Eu preciso lhe falar
Eu preciso tenho que lhe contar


Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Se for chorar
Te amo....

Recomeçar

Ai... recomeçar...
Estou amarrado mas não encontro o nó da corda...

Por que ando em circulos?
Cravo meu remo na água mas ele não emerge.

Tenho um problema:
Eu não vivia sem voce,

Mas agora estou sem voce
E não sei amar, andar, viver...

Saio do trabalho...
por que a pressa?

Vou ao mercado, encho o carrinho
com as coisas que voce gosta...

Semana depois,
tenho que jogar tudo fora.

Recomeçar...
Acabou?


wk

sábado, 8 de junho de 2013

Saudades, como lidar com isso?


Saudades, isso dói...
Saudade das lágrimas, dos sorrisos...
Saudade do silêncio, das palavras,
Duras, doces, palavras amargas, palavras amigas...
Saudade da presença e da distância necessária...
Saudade que não cabe no peito
E transborda nos olhos...
Saudades, como lidar com isso?
Saudades, como dói...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Flor que não murcha

 
4 estações se passaram desde que deixei algo que,
 até hoje não sei se deveria ter deixado...
Logo, as árvores vão dar à luz uma nova geração de botões,
flores que crescem onde as antigas murcham
e servem para lembrar que a vida não para,
antes, é um ciclo que se reinicia todas as manhãs...
Mas tem uma flor que insiste em não murchar.
 
 
 
wk

sábado, 18 de maio de 2013

Espírito do vivo Deus


G                 D  G   C        G      (Em) (D)       G-----D
Espírito do vi  vo  Deus, desce   so     bre    mim.

G                D  G   C       G      Em    D    G-------(G7)
Espírito do vi  vo Deus, desce so    bre mim.

C                G                A7         D             D7
Muda-me, molda-me, usa-me, vive em mim.

G                D  G    C        G      Em   D    G
Espírito do vi vo   Deus, desce  so    bre mim.

Espírito do vivo Deus, desce sobre nós.
Espírito do vivo Deus, desce sobre nós.
Muda-nos, molda-nos, usa-nos, vive em nós.
Espírito do vivo Deus, desce sobre nós.

terça-feira, 14 de maio de 2013

timidez

Fiquei ofuscado, ali congelado,
com tantos pensamentos
que explodiam em minha mente
que acabei fazendo exatamente aquilo que não deveria fazer...

Olhei direto nos seus olhos
minha boca se abriu
embora os lábios demorassem a se desgrudar
Meus ouvidos podiam ouvir minha pulsação
E esqueci-me de que tinha que respirar...

Sabia que, a todo custo deveria desviar o olhar
pois só assim estaria a salvo
recuperando os sentidos
e meu corpo aos poucos reaprendia
como manter os sinais vitais...

Voce ia me fazer uma pergunta
e antes que balbuciasse
eu teria que ter uma resposta
Não importando o assunto,
certamente seria uma resposta
da qual eu me arrependeria depois

Voce franziu a testa
claramente sem entender nada
mas com um sorriso divertido
e o gelo começara a quebrar-se
O garçom salvou-me de um desastre
nos entregando o menu,
e eu ganhei uma sobrevida...

terça-feira, 7 de maio de 2013

tudo tem limite

Caminhar com meu sobrinho pelas calçadas do bairro é mesmo uma diversão... ao menos pra mim.

Dialogando:

"- Tio, quantos cachorros passeando na calçada..."
"- Verdade, Thiago, eles precisam caminhar um pouco."
"- Eu queria ter um cachorro mas meu pai disse que não dá..."
"- E ele tem razão, Titi, voce teria que abrir mão de sua calopsita..."
"- Éeee...."
"- Teria que abrir mão da sua tartaruguinha..."
"- Éeee..."
"- Teria que ajudar mais a mamãe..."
"- Éeee..."
"- Teria que reservar tempo pra sair com ele pra passear..."
"- Éeee..."
"- Teria que jogar menos vídeo game..."
"- AHHHHHHHHH!!!!!!"

domingo, 5 de maio de 2013

uma redação

   Um relojoeiro me mostrou um relógio aberto e perguntou qual das peças eu seria, respondi apontando para uma ampulheta na prateleira."- Aquela areia"

   Uma jovem estudante de meteorologia quis saber qual o estação do ano eu mais curto: "- Outono."

   Um engenheiro construtor me mostrou um trator, um canteiro de obras, uma rodovia e uma ponte sobre um rio e perguntou o que mais me impressionava: "- Aquele barquinho."

   Um músico me perguntou qual é o meu acorde preferido: "- A diminuta."

   Uma professora havia me questionado sobre o que eu mais gostava na poesia: "- O som"

   Um fotógrafo me perguntou qual minha fotografia predileta: "- Não tirei ainda."

Depois de terminar essa redação que era pra falar sobre a vida, a professora fez uma anotação em caneta vermelha:
"- Deves ser mais objetivo!"

Respondi abaixo com um lápis de ponta quebrada:

A vida nem sempre é uma engrenagem de relógio, passamos por épocas de transição, e navegamos sempre, buscando um equilíbrio, um acorde de repouso, um som que entorpece a alma e sempre acreditamos que o melhor está por vir.

wk

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Sino breve

Uma canção (voz, violão, sem rítmo)

Eu bem avisei
Toma cuidado
Com os espinhos
Toma cuidado
Com as belas cores
Pelo caminho
Toma cuidado
A água que te derem
Com a cor dos olhos dela
Ouça o sino breve
Badalo se repete
Hipnotiza a alma
Mas sempre será
O som de um sino breve

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Amor de outro lugar

Vejo a vida passar
Num verde olhar
Sinto o vento empurrando
Uma nova estação
 
Congelo no tempo, o corpo,
As chamas, os raios do sol,
É um instante, um momento
Em qualquer lugar
Pensando no amor
De outro lugar
 
Veja as mãos do cerrado
(Elas) apontam pro céu
Sinta o vento campeiro
Tirando o chapéu
 
Venço as fronteiras do amor
Com a força do vento, e vou...
Sentado no banco
Ou na grama
Em qualquer lugar
Pensando no amor
De outro lugar...
Eu vou...
Ooo... Eu vou.

wk.

Nada pode faltar

Vou me deitar, não apague a luz, tenho medo
Pois se eu precisar, meus olhos abrir,
Quero ver onde tudo está
 
São ilusões, anseios, tensões, mistérios
Da vida que se tem,
Como uma criança, olho incerto o amanhã
 
Seguro em tuas mãos, óh Pai,
Assim quero me deitar
Sonhando com o amanhã
Que Tu me deste por me amar
 
Nada pode me faltar
 
Seguro estou, a luz clareou meu quarto
Quando eu precisei, meus olhos abri
Tudo estava lá...
 
Tudo está bem, com Cristo hoje vivo na Luz
E não tenho medo, acordo bem cedo com gratidão
 
Deus de Deus, Luz de Luz,
meu seguro é Jesus
E o que hoje eu não posso ter,
Espero e creio que,
Terei um dia em Ti,
Vida eterna enfim...
Terei um dia em Ti,
Vida eterna pra mim.

wk.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

visitante ou morador?


Convidei Deus pra viver em minha vida;

Ele me disse: "Tudo bem, vou sim, só tem uma coisa."

Pensei rapidamente sobre qual condição seria e Ele continuou:

"Eu só sei ser Deus e terei que ser Deus também em sua vida.."

Embora num primeiro momento tenha me parecido óbvio,

fui-me descobrindo aos poucos o meu lado "turrão"
e a minha resistência, insistindo
em tratar Deus apenas como visitante...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Hoje não acordei


Hoje não acordei.

Levantei, cambaleei até o banheiro, lavei o rosto e me dei conta, que sequer havia acendido a luz.
Molhei o cabelo para que assentasse bem e rápido, já pensando no que ia vestir, mas como não havia acordado, vesti a primeira roupa que encontrei ao abrir o armário.
Um comprimido de vitamina, um pedaço de bolo e uma maçã, já era a quinta maçã na semana e havia prometido para mim mesmo trocar por uma banana, mas como não acordei aquele dia, segui meu caminho, sonolento, com a fruta na mão.
No trabalho, lembro de ter cumprimentado alguns, outros apenas respondi acenando com a mão,
ouvi algumas notícias, algumas piadas mas não havia café que me acordasse. 
No trabalho, lembro de ter cumprimentado alguns, outros apenas respondi acenando com a mão,
ouvi algumas notícias, algumas piadas mas não havia café que me acordasse. 
Cumpri as tarefas com uma reclamação aqui, outra ali, entre um telefonema e outro e eventualmente respostas trocadas.
Voltei para casa pensando em passar na farmácia mas, quando me dei conta havia errado o caminho.Fiz o retorno e descobri que tinha esquecido a carteira no trabalho. Enfim, cheguei em casa, ansioso.
Alguma conversa sem nexo, chequei alguns itens do lar, tudo em ordem, fui deitar.
Então, acordei!



domingo, 21 de abril de 2013

Fuga

Me parece  sempre que fujo de alguma coisa...
Do medo, da incerteza, da mudanca...
Fujo do destino, do futuro,
de um passado tentando nao lembrar...
Fujo do transito... fujo do aperto,
Estou em casa, mas, as vezes parece que nao estou...
Fujo da discussao, da palavra aspera, do confronto...

Quando estou so, fujo da realidade,
Quando estou com alguem, fujo do olhar...
Fujo ao ter que me enfrentar
Fujo de mim, tentando me encontrar,
e me agarro em desculpas
que tratam meu caso por perdido e encerrado
quando na verdade, como nuvens
Flutuam as perguntas no ar...

Entao fujo correndo delas
Como que quisesse fugir de nuvens no ceu
Corro, dobro esquinas, e la elas estao, sempre...
Em movimento, crescem, se fundem
E eu, em passos desencontrados,
caminho disfarcando minha fuga...

quarta-feira, 17 de abril de 2013

transição


E eis que o corriqueiro, o habitual me foi tirado por um instante.
Ainda corro para qualquer lado tentando recuperar mas em vão.
Vivo uma contínua transição, vago mas não à toa.
Esconde o sonho aquele que diz que não sonha,
Mente pra si o que diz que luta o suficiente.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Entre, a casa é sua


Entrei num lugar onde me disseram pra me sentir em casa
Não sei o que procurava, mas tinha uma necessidade enorme de encontrar algo ou alguém.

Logo de cara, comecei a vasculhar a sala
procurando pistas, dicas, removi móveis do lugar
Levantei o tapete, desmontei o armário, o lustre

Bati no teto tentando ecoar algo oco
Quebrei a parede tijolo por tijolo
Tirei o piso, taco por taco
Desmontei a TV, o equipamento de som
Rasguei cada almofada do sofá

Concluí que procurava no lugar errado
Mudei de cômodo e reiniciei toda minha bagunça
E um armário veio literalmente abaixo sobre minha cabeça

Desconfiado de que a casa era a errada
Fui à vizinha e incansavelmente revirei absolutamente tudo
Cavoquei o jardim, tirei o telhado, telha por telha, calha após calha,
quebrei o anão, o cogumelo e a branca de neve
olhei os encanamentos e soprei em cada um deles
Na esperança de encontrar alguma pista

Foi quando vi um livro fechado
Comecei a destacar folha por folha
rasgando uma por uma
a primeira em branco
a segunda em branco
a terceira em branco
todas em branco

Quanto mais eu destacava as páginas
mais folhas o livro tinha
todas em branco...

Esgotado atirei o livro o mais longe que pude
E como um bumerangue
Ele acertou em cheio meu peito
Caí sentado e vi a casa toda arrumada
o jardim arrumado tudo estava intacto no seu lugar

No chão à minha frente, o livro aberto na página 1 e uma caneta
pronta para ser usada...

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O chope e a rede

Irineu pacífico, depois de longo isolamento resolveu 
aceitar o convite e saiu com os amigos.

Foram a um bar, comer, beber e jogar prosa fora. 
Ao menos pensou assim.
Tardou, e em uma grande mesa todos estavam lá 
inclusive ele, único pontual.

Enquanto pensava na entrada, olhando o menu,
tentando não se assustar com os preços,
foi surpreendido com algumas fotografias 
que os amigos tiravam com o celular.

Ninguém falava, apenas aparelhos nas mãos, olhos fixos na tela,
e um movimento frenético dos dedos, clicando ou teclando algo.

Chamou o garçom, pediu algo para beber,
consultou sobre algumas porções.
Silêncio na mesa, todos concentrados num minúsculo aparelho celular.

Bendita tecnologia que, em segundos, 
todos já estavam todos visíveis e localizados
através de um check-in da turma! "Check-in?!" pensou! 
Isso no meu tempo era feito em aeroporto e ali nem voar iríam!

E as fotos postadas eram seguidas por comentários escritos 
dos próprios participantes da mesa..
"Voce viu o comentário que fiz?" 
Era o máximo que se ouvia ali.
Não era mais fácil comentar de viva voz, entre uma batata e um chope?
Tin-tin, Mark!!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Rilke 9

Avalie se as grandes tristezas, não atravessaram o seu íntimo;
se, em algum lugar, algum ponto do seu ser 
não se modificou enquanto estava triste.

Só são ruins e perigosas as tristezas que carregamos 
em meio às pessoas para dominá-las; 
como doenças que são tratadas de modo superficial e leviano, 
elas apenas recuam e, após uma pequena pausa, 
irrompem ainda mais terríveis. 

Essas tristezas se acumulam no íntimo 
e constituem uma vida não vivida, 
desdenhada, perdida, de que se pode morrer. 

As tristezas são os instantes 
em que algo de novo penetrou em nós, 
algo desconhecido... 
nossos sentimentos se calam em um acanhamento tímido; 
tudo em nós recua e surge uma quietude
e o novo é encontrado bem ali no meio em silêncio. 

As tristezas são momentos de tensão 
que sentimos como uma paralisia 
porque não ouvimos ecoar a vida 
e os sentimentos se tornaram estranhos para nós; 
isso porque estamos sozinhos com o estranho
que entrou em nossa casa, 
tudo o que era confiável e habitual 
nos foi retirado por um instante 
porque estamos no meio de uma transição 
em um ponto no qual não podemos permanecer. 

Por isso também a tristeza passa, 
o novo em nós, o acréscimo entrou em nosso coração e está no sangue. 
Não percebemos o que houve mas nos transformamos 
como quando chega um hóspede em nossa casa. 
O futuro entra em nós para se transformar 
muito antes de acontecer. 

Por isso é importante estar sozinho e atento quando se está triste 
porque o instante aparentemente parado 
sem nenhum acontecimento 
é o futuro que entra em nós sem percebermos; 
quanto mais tranquilos, pacientes 
e receptivos formos quando estamos tristes,
mais profundo e firme o modo como o novo entra em nós, 
tanto mais fazemos por merecê-lo 
tanto mais se torna nosso destino.

Rilke

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Rilke 8

Penso que há uma identificação entre mim e o texto a seguir:

"Se se ativer à natureza, ao que há de mais simples nela, 
às pequenas coisas que quase não vemos e que, 
de maneira imprevista, podem se tornar grandes e incomensuráveis;
se  tiver esse amor pelo ínfimo e procurar com toda simplicidade 
conquistar como um servidor a confiança do que parece pobre
então tudo se tornará mais fácil, pleno e de algum modo reconciliador, 
talvez não no campo do entendimento, que fica para trás, espantado,
mas em sua consciência mais íntima, no campo da vigília e do saber.

Tens diante de si todo o começo,
 tenha paciência em relação a tudo que não está resolvido em seu coração. 
Tenha amor pelas próprias perguntas, 
como quartos fechados, como livro em língua estrangeira. 
Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas,
porque não poderia vivê-las. 
Viva as perguntas e, talvez, sem perceber, passe gradativamente, em um belo dia, a viver as respostas...

Rilke 7

Permita a suas avaliações 
seguir o desenvolvimento próprio,
tranquilo e sem perturbação,
algo que precisa vir de dentro
e não pode ser forçado nem apressado por nada.
Tudo está em deixar amadurecer e então dar à luz...
...está em um ponto inalcançável para o próprio entendimento,
em esperar com profunda humildade e paciência
a hora do nascimento de uma nova clareza...
...em amadurecer como uma árvore
que não apressa sua seiva
e permanece confiante durante as tempestades...

Rilke 6

O destino é como um tecido maravilhoso,
amplo, no qual cada fio é conduzido por dedos
de uma delicadeza infinita,
posto ao lado de outro fio,
ligado à centenas de outros que o sustenta.

Rilke 5

As coisas em geral não são tão fáceis de aprender,
de dizer como normalmente nos querem levar a acreditar;
A maioria dos acontecimentos é indizível,
realiza-se em um espaço
que nunca uma palavra penetrou.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Rilke 4

Não há nada pior para o seu desenvolvimento
do que olhar para fora e esperar
que venha de fora uma resposta
para questões que apenas
seu sentimento íntimo
talvez possa responder
em alguma hora tranquila.

Rilke 3

Uma obra de arte é boa
quando surge de uma necessidade...
Talvez ela revele que o senhor
é chamado a ser um artista.
Aceite sua sorte e a suporte,
com seu peso e sua grandeza,
sem perguntar pela recompensa
que poderia vir de fora.

Rilke 2

Caso o seu cotidiano lhe pareça pobre,
não reclame dele, reclame de si mesmo,
diga para si mesmo que não é poeta o bastante
para evocar suas riquezas;
Pois para o criador não há nenhuma pobreza
e nenhum ambiente pobre, insignificante.
Mesmo em uma prisão,
cujos muros não permitissem
que nenhum ruído do mundo
chegasse a seus ouvidos,
o senhor não teria a sua infância,
essa riqueza preciosa, régia,
esse tesouro das recordações?

Rilke I

Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém.
Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo.
Investigue o motivo que o impele a escrever;
Comprove se ele estende as raízes
Até o ponto mais profundo do seu coração,
Confesse a si mesmo se o senhor morreria
Caso fosse proibido de escrever.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

palavras, onde vocês estão?



Estranho, onde estão as palavras 
que tanto me incomodaram a vida inteira?
Que me tiraram o sono e só me deixaram em paz
quando as coloquei em uma linha?

A minha inspiração sempre veio de alguma dor
Mas essa dor não me inspira a nada...

Em mim, apenas um vazio 
em que caberiam tantas coisas...

sábado, 26 de janeiro de 2013

vire o mundo


Miriam, hora de voltar
No mundo da poesia
não há tempo
nem entrada ou saída
Há apenas um mundo
Uma órbita, um sol...
Vire meia volta este globo
e estamos novamente
no mundo imperativo
das palavras ordenadas...
A poesia ficou do outro lado
pra outro dia...

poesias são borboletas


Miriam, amiga de longa data,
me chamou para um passeio
pelo mundo da poesia.
Aceitei mas com uma condição:
Silêncio eu, silêncio ela.
Pelas janelas vi palavras soltas,
pareciam dizer mais do que juntas...
Pesadas, leves, flutuavam
Conforme o pensamento.
Um mundo à parte, um mundo solto

Acorrentado pela liberdade da imaginação.

Não tem partida, nem chegada...
Melhor caminhar em silêncio Miriam Park.
Nesse mundo as palavras voam
Como as borboletas,
Quando vc as prende, perdem a razão de ser.

A Coruja e o Esquilo


Miriam, preste atenção naquela coruja
conversando com o esquilo...
Consegue ouvir? Desprende-te, presta atenção:


Coruja: "Na poesia vejo a insuficiência da razão,

            e a coerência do contraditório."
Esquilo: "A poesia é ridícula!"
Coruja: "O ridículo é sábio..."
Esquilo: "A sabedoria é louca!"
Coruja: "O louco descreve a vida em versos..."

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

a thousand years

http://youtu.be/rtOvBOTyX00


Heart beats fast
Colors and promises
How to be brave
How can I love when I'm afraid to fall
But watching you stand alone
All of my doubt suddenly goes away somehow

One step closer

I have died every day waiting for you
Darling don't be afraid
I have loved you for a thousand years
I'll love you for a thousand more

Time stands still
Beauty in all she is
I will be brave
I will not let anything take away
What's standing in front of me
Every breath
Every hour has come to this

One step closer

I have died every day waiting for you
Darling don't be afraid
I have loved you for a thousand years
I'll love you for a thousand more

And all along I believed I would find you
Time has brought your heart to me
I have loved you for a thousand years
I'll love you for a thousand more

One step closer
One step closer

I have died every day waiting for you
Darling don't be afraid I have loved you
For a thousand years
I'll love you for a thousand more

And all along I believed I would find you
Time has brought your heart to me
I have loved you for a thousand years
I'll love you for a thousand more

sábado, 19 de janeiro de 2013

Como está seu barco?


Ele vivia numa ilha paradisíaca. Linda praia, muito sol, água de coco, água natural vinda das rochas, peixes ornamentais....

Mas havia um lado obscuro da ilha, tenebroso, úmido e frio, sem sol, havia um vulcão que entrava em erupção sempre sem avisar. Assustador.

Sempre que podia, evitava andar por lá. Mas não podia. Tinha que passar por lá frequentemente para chegar às rochas e beber da água.
E cada vez que ia era um sofrimento... sustos, arranhões, ataques e ferimentos... Voltava acabado...
Então descansava na parte boa da ilha, com sol, vendo o mar cristalino se recuperava.

Certa vez voltou do lado negro tão arrasado que decidiu deixar aquela ilha, apesar de linda, improvisando uma jangada.
E o fez com pressa levando consigo poucos pertences e algum material que usaria para robustecer seu flutuante. E lá se foi mar adentro.

Ele olhava para trás contemplando aquela ilha, um paraíso de bela, e entre lágrimas, parava de remar pensando em retornar, afinal, o que o aguardava naquela imensidão de águas? Mas desviando o olhar para a lateral da ilha, aquela cena assustadora, obscura logo o fazia voltar para a frente seguindo seu mar.

Águas calmas, o som do vulcão ia ficando pra trás, apenas e às vezes, alguma onda mais forte batia em sua jangada, que agora estava virando num barco, transformado por ele que passou a prestar mais atenção nas coisas à sua volta.

Logo surgiram golfinhos, deslumbrantes, saltavam aos olhos, brilhavam e faziam piruetas incríveis. Seu barco começou a segui-los... Viu sereias passando ao lado e com canto hipnotizante o faziam flutuar nos pensamentos.

Mas, com um chacoalhão na cabeça, logo retomou sua bússola e seu caminho, e tratou de não se distrair mais com essas belezas e novidades que passavam nesse alto mar.

Mais adiante e muito mais rápido do que pensou, surgiram outras ilhas, das mais diversas. Uma mais bela e singular que a outra. Parecia que se aproximavam dele, ou era ele que se aproximava delas, o mar tem dessas coisas, com o vai-e-vem das águas, não se sabe quem está se movimentando.

Mas ele optou por olhar mais para seu barco, fortalece-lo, tapar alguns buracos, pregar algumas madeiras reforçando-o contra algumas ondas fortes, até uma vela havia conseguido improvisar com uma rede de dormir que trazia consigo.

Ilha mesmo, só se pudesse deixar este barco preservado em um lugar seguro, para usar novamente se necessário.