Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

dia-a-dia sem ela

Zé da Banca me confidenciou:
Eu não acredito nessa falta d’água.
E se for, que mal há? tudo é passageiro nessa vida, menos o motorista…
Eu levanto de manhã… bem…
posso limpar meu rosto naqueles lenços molhados de farmácia…
sai lá um pouco de gasto mas….
Escovar os dentes é mais difícil;
mas, a gente toma logo um café e o gosto ruim da boca se vai…
Hm, fazer café? Água mineral sô.
A garrafinha ta mais barata que a xícara de café na esquina...
É trocar de roupa e bora trabalhar….
A cueca dá pra usar de novo mas as meias…
melhor ir sem mesmo….

A mulher em casa é quem reclama
pra tirar a maquiagem,
fazer o feijão, lavar a panela,
a roupa, os panos pra limpar a casa...
Meu carro fica sem lavar mesmo.
Mas outro dia faltou água no radiador e cade torneira molhada pra eu encher???
No caminho de hoje não é que furou o pneu?
Bom, trocado o rumo é da roça
E cá estou eu trabalhando…
vai querer levar?
(E me mostrou um cacho de banana com as mãos inda sujas de graxa e terra)

quando o tempo tomou meu tempo

De fato, ele diz e mostra muitas coisas,
explica e faz entender o inexplicável
O tempo mostra a verdade
e espalha a sabedoria
O tempo me ajudou muito
e muita injustiça se converteu
no regalo proporcionado por ele
Mas o tempo, tomou o meu tempo
Me levou meus dias, horas e minutos
para provar e comprovar o que sempre soube
para aprender aquilo que eu recusava como certo
para aceitar como relativo o que era absoluto…
Agora tudo consome meu tempo
Porque o tempo é linear…. a vida não.
wk

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

brahma ou skol?

Numa tarde dessas de calor insuportável,
tentando me esconder do sol implacável
podia ver um ovo fritar no chão quente,

procurei um bar para tomar uma cerveja
mas tinha que ser um simples bar
daqueles com azulejo antigo,
branco e assentado na diagonal, até a 1,80m de altura na parede....

Em um bairro tradicional não foi difícil encontrar.
Logo o balconista com um pano de prato úmido no ombro
interrompeu sua conversa com outro companheiro do outro lado do salão
E com forte sotaque baiano perguntou:
- "O que manda meu rei?"
- "Uma cerveja, bem gelada, amigo," respondi.
- "Brahma ou skol, meu rei?"
- "Brahma."

E o balconista retomou seu diálogo:
"... Porque o bom baiano mesmo não se atrasa."
- "Não se atrasa? É porque você não conhece o Zé."
- "Mas veja o Mendonça. Ele nunca se atrasou. Ele chega mais cedo
pra conhecer o local, pra se adaptar e depois começa a trabalhar."

E, à distância, com a geladeira aberta, gritou pra mim:
"Brahma ou skol, meu rei?"
-"É Brahma!" respondi com o mesmo volume de voz.

- "Mas ele começa meia hora depois do marcado," retomou o outro.
- "Mas não chegou atrasado. É isso que você tem que entender de nós baianos."

E chegando ao balcão onde eu estava,
com a cerveja dentro daquelas formas que,
teoricamente mantém a bebida gelada,
abriu a garrafa e me interpelou:
-"O bom baiano não se atrasa, só faz a coisa certa no tempo certo! Taí meu rei"

E com habilidade, abriu a garrafa e ao mesmo tempo, deixou um copo ao lado.
A tampinha caiu no meu colo, e agarrei-a com a mão:
Era skol!!!


o que havia na mochila


Estava em um carro do trem que ia para a zona leste no metro hoje...

eram 6h da manhã.
E entrou uma menina, sozinha
cara de moleque, corpo de moleque, 11 anos, 12 no máximo,
com uma camiseta branca da escola pública muito amarelada e amassada
bermuda escolar e tenis desamarrados sem meias.
Pele bem morena mas o cabelo loirinho loirinho e bem desarrumado.
Mal pude ver seus olhinhos verdes.

Ela entrou e sentou,
nem penteara o cabelo
na verdade, parecia que não penteara havia alguns dias
muito menos lavara o rosto...
Pos a mochila no colo
segurando-a com uma mão
abriu o ziper e enfiou a outra dentro dela para retirar algo,
talvez um fone de ouvido
mas de repente ela parou;
Vi que os olhos apontavam para a mochila
mas a mão não saía de lá...
O que teria a pobre menina encontrado naquela mochila?
Seja o que for, a deixou pensativa
porque nao se mexia nem mesmo seu rosto cabisbaixo
mirando a surrada mochila...
Estaria apalpando um objeto ou esquecera um caderno?
Ou trouxera algo desnecessário?
Mas ficou 3 minutos imóvel
E eu também, só imaginando o que ela teria encontrado
com a mão naquela mochila surrada e toda rabiscada.
Eu estava disposto a não descer na minha estação
mas esperar que ela tirasse da mochila o objeto
que a paralisara por longos agora 4 minutos...
De repente, como se levasse um choque
ao ouvir o alarme de fechamento das portas do trem
ela largou a outra mão de fora da mochila
e enxugou a baba no canto de sua boca
e levantou os pesados olhos
e olhou pra mim respirando fundo e ao mesmo tempo levantando a sobrancelha:
Tinha cochilado. E eu, perdi a estação!