Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Estava naqueles dias,
de saco cheio de tudo,
já falando "não" pra qualquer coisa
antes mesmo que se manifestasse.
Peguei a chave do carro 
nem de carro eu quis saber.
Fui para o ponto de ônibus
Assim ficaria pensando no nada,
E se brigasse, seria comigo mesmo.

Chegando ao ponto coletivo,
vi uma senhora idosa, japonesa,
com aquelas tocas de turista oriental
roupa de jogadora de cricket
tenis branco e uma sacola na mão
com algumas compras de mercado.

Ela descia da calçada e ia para o asfalto
olhando para o início da rua
tentando trazer com os olhos
o ônibus que não vinha...
Então ela volta pra calçada
E em segundos repetia o movimento..
Por várias vezes quase sem parar
ia e vinha... alguns carros buzinaram;

Até que me viu apoiado no poste
com uma das mãos no bolso
e minha mochila escorregando do ombro;

Levantei minhas sobrancelhas
E a observei vindo em minha direção:
"E essa agora?!" Pensei
Surpreendendo-me a senhora se dirigiu a mim:
"O senhoro fala muto poco, né?!"
"Tem que corocar pra fora,
mãe minha tem 105 anos porque sempre faro assim, pra fora!"

"Meu Deus?!" Pensei! Tenho que pensar
numa resposta rápida!
Pensei, pensei, fingi ver algo no celular...

Disparei:
"E a senhora é muito ansiosa,
e está correndo risco andando pra lá e pra cá,
não vá a rua, fique aqui, senhora!"

Ela pareceu não me dar ouvidos
ou não me entendeu
e seguiu indo e vindo, olhando,
rua e calçada, alguns carros desviando...

De repente ela voltou até mim novamente
e disparou:
"E o senhoro pensa muto pra falar.
Assim não adianta!"

Olhei para os céus e disse, sem pensar:
"Deus, essa foi tua, né?"