Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

AFINAL, PARA QUE SERVE O NATAL?


Quer receber a mensagem do natal de uma forma que voce talvez não tenha recebido ainda?
Escute o oratório de natal de Bach...









Depois que passar o natal, escute a paixão segundo São Mateus do mesmo compositor.




Tente lembrar e identificar alguma melodia apresentada no oratório de natal.


Conseguiu? Então voce entendeu o porquê do Natal.









Escute ainda sobre a páscoa, a ressurreição de Cristo.
Pronto! Vc recebeu a verdadeira mensagem do Natal!







"Cristo nasceu, viveu, morreu e ressucitou por você, para que voce tenha a vida eterna junto com Ele. Basta crer!"







FELIZ NATAL


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O INCÊNDIO E O BALDE DE ÁGUA


 Não se assuste com o contraditório, ele faz parte da nossa vida, eu que o diga...

mas no meu caso, o que parece, ora ser uma coisa, ora ser outra, figurando assim um contraditório, nada mais é do que a minha luta como a de davi e golias.
Eu tenho que apagar um sentimento ou pelo menos tentar controlá-lo aqui dentro em mim, mas estou como aquele que, desesperado diante de um incêndio de proporções imensuráveis, tenta apagá-lo com um balde dágua... quando se pensa que controlou o incêndio, eis que ele surge mais forte e intenso.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dando valor à pequenos detalhes


Eu passava em frente à alguns bares no caminho de volta pra casa.
E pensava que esta fase eu já havia superado...
Não tinha por quê parar por ali, não tinha tempo para isso...
Tinha uma esposa que me esperava em casa, um lar,
Não tinha filhos mas tinha um cachorrinho que, ao me ver pulava como uma pipoca numa panela...
Eu tinha responsabilidades, tinha que chegar alegre, disposto,
E eu chegava feliz, cansado, mas feliz...
Aliás, durante o dia, eu não via a hora de encerrar os trabalhos
para voltar pra casa, curtir minha esposa, nossos planos,
fazer algo ou não fazer nada, comer uma simples pizza ou nem comer,
passar na locadora, assistir um dvd, ir antes à famácia, à padaria, trazer uns kibes...
na verdade vinha com um monte de idéias, mas  no final fazia a vontade dela
e não achava ruim, pois eu disputava lugar com meu caozinho pra ficar do lado
de quem eu amava.
Eu a ouvia cantar, eu a ouvia rir, inventar na comida e eu dizia sempre:
"Está uma delícia meu amor!"
Me assustava com algumas compras repentinas que ela havia feito, mas me mostrava feliz
Agora, ela se foi...
passo em frente aquele bar mas não entro
ando a passos rápidos e firmes hoje, certo de que alguém me espera em casa...
mas ninguém, nem meu caozinho... o apto. que era pequeno
de repente, ficou enorme, faz eco nas paredes...
Não vou à farmácia, não vou à locadora, um kibe, como por lá mesmo,
tomo um suco de abacaxi com hortelã, que nós dois gostávamos muito...
Chego apressado em casa, mas, em vão.
Sinto falta de tudo, dos risos, das brigas, dos telefonemas, de me mandar ao mercado duas até tres vezes no mesmo dia, da sogra dando opinião, do caozinho aprontando pela casa..
sinto falta dela, mas tenho que aprender a respeitar a decisão dela.
Isso também é amar!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A VIDA É UMA PEÇA

A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isto, cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
Charles Chaplin



quarta-feira, 2 de dezembro de 2009



O que perguntar quando a resposta é esta?!



A minha graça te basta!

AMAR segundo Drummond

Drummond


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar
amar, desamar,  amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão,
rodar também e amar?
amar o que o mar traz à praia,
             e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.


Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

RECOMEÇAR



E o que é recomeçar senão acordar cada manhã...
É olhar um por de sol e ter a certeza que o amanhã virá
É respirar a cada segundo, e em alguns instantes repirar fundo
É contar até 10 e não pensar em vingança nem responder à altura
É almoçar e depois tomar um café, é jantar e depois tomar um licor
É repetir cada passo com os pés como se fossem diferentes um do outro
É avançar sem muitas vezes sair do lugar
É ficar parado andando, caminhando, refletindo
É olhar cara-a-cara para a pessoa do seu lado e dizer ¨eu te amo... mesmo assim¨
É perdoar e ser perdoado
É errar e acertar
Quando se desiste, na verdade se está recomeçando...
Até a mais avançada tecnologia de computação tem um botão de REiniciar...

...
É tanta coisa... pois recomeçamos a cada segundo, a cada instante, mesmo que tenhamos que dar um passo atrás para avançar 100 passos...
Recomeçar porque Deus quer que recomecemos, afinal, Ele nos perdoa a todo instante...
E recomeça sua conciliação conosco a cada pecado, a cada arrependimento, a cada perdão
Até quem morre recomeça...
Porque o começo mesmo, o homem discute até hoje, mas uma coisa é certa: RECOMEÇAR ele o faz a todo instante!

Wagner Knopp

domingo, 29 de novembro de 2009

PRA QUEM CURTE POR DE SOL COMO EU...

Estas fotos eu tirei por onde eu passei...



ISTO É SÃO PAULO!!!


em plena marginal do tietê, estação de trens pinheiros







poxa, não consigo me lembrar...
lembrei! da sacada do meu apto...





6h30 da manhã, saindo de casa, de um lado o sol nascendo, do outro esta bela lua, (zoom máximo não ajudou muito)







de Santa Cecília olhando para a zona sul sp






vista de Santa Cecília, bairro de São Paulo


essa foto foi tirada em 2029..., só não sei quem está aí do meu lado...




Jaguarão RS

eu e meu companheiro... o sol.





Ela... hoje, só saudades...



 




Sol e lua eram nossa companhia










céu em Jaguarão RS







rio jaguarão, divisa com Uruguai







rio la plata, Punta del leste - Uruguai






Em algum lugar no Uruguai... (não me lembro)






lado brasileiro em Jaguarão




em brasilia (mas não é minha foto)





na verdade aqui o sol está nascendo






Em Mongaguá







mais Mongaguá litoral sul







fim de tarde num outono no ibirapuera

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

surpresas do coração


Estou num lugar improvável, numa hora inesperada, e, não mais que de repente uma criança aparece e, sem dizer uma palavra, me dá um abraço... e ela se demora a soltar...
emudeci!
Alguém pode me dizer o que significa isso?
Inesperado como este por-de-sol em plena marginal do rio tietê...

domingo, 22 de novembro de 2009

Como o voo da águia



Até os jovens se cansam, tropeçam e caem, mas os que confiam no Senhor recebem sempre novas forças.
Voam nas alturas como águias, correm e não perdem as forças, andam e não se cansam.
Sl 40:30

sábado, 21 de novembro de 2009

É FÁCIL VIVER, MAS COMO CONVIVER?


                                            viver em paz é possível... a vida é mais simples do que se imagina...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Te Amaré

Te Amaré

Con la paz de las montañas te amaré
Con locura y equilibrio te amaré
Con la rabia de mis años
Como me enseñaste a ser
Con un grito en carne viva te amaré
En silencio y en secreto te amaré
Arriesgando en lo prohibido te amaré
En lo falso y en lo cierto
Con el corazón abierto
Por ser algo no perfecto te amaré
Te amaré te amaré
Como no está permitido
Te amaré te amaré
Como nunca nadie se ha sabido
Porque así lo he decidido te amaré
Por ponerte algun ejemplo te diré
Que aunque tengas manos frías te amaré
Con tu mala ortografia
Y tu no saber perder
Con defectos y manias te amaré
Te amaré te amaré
Porque fuiste algo importante
Te amaré te amaré
Aunque ya no estes presente
A pesar de todo, siempre
Te amaré
Al caer de cada noche esperaré
A que seas luna llena y te amaré
Y a pesar de pocos restos
En señal de lo que fue
Seguirás cerca y muy dentro
Te amaré
Te amaré te amaré
A golpe de recuerdo
Te amaré te amaré
Hasta el último momento
Seguirás cerca y muy dentro
Te amaré.
A pesar de todo, siempre
Te amaré

É possível sorrir sempre?



O metrô é de fato, o lugar onde os sociólogos deveriam passar a maior parte do tempo, apenas observando atentamente as coisas, pessoas e até mesmo ouvir algumas conversas, não que isso seja a melhor e mais educada coisa a se fazer, pensou Gaardner. Estava no metrô da paulista, a conhecida linha verde, na estação consolação, uma depois do hospital das clínicas um dos maiores complexos hospitalares da América Latina, para quem vai no sentido do alto do Ipiranga, zona sul da cidade. O vagão não estava cheio, pelo contrário, havia bancos vazios e Gaardner notara que havia uma mãe com uma criança talvez 2 anos, 2 anos e meio, não mais que isso. Uma menina. Gaardner também observara que ninguém sentou ao lado da mãe e da criança, talvez só uma coincidência e ele preferiu pensar assim. Gaardner se aproximou e sentou ao lado desta mãe e a menina no colo, que brincava sem parar e conversava com a mãe perguntando talvez sobre tudo. A menina então, fez silêncio, afinal era impossível não perceber a aproximação de Gaardner e seus 1,95m de altura. Olhou bem para Gaardner que sorriu simpaticamente para a menina e se deu conta então, que a menina estava vindo de uma seção de quimioterapia, isso era comum encontrar naquelas estações e naquela região por conta do complexo hospitalar, o fluxo de pessoas que vão fazer tratamento era uma rotina no metrô e Gaardner sorriu para aquela menina carequinha, com alguns fios longos de cabelo, não mais que 10 ou 15, imaginando como seria ainda mais linda aquela criança de cabelos. Concluiu afinal, que era mesmo, uma linda criança. De repente os dois se flagraram olhando fixamente um para o outro e, meio que sem graça, ambos trataram de retomar o que estavam fazendo: Gaardner olhou para a janela e a criança continuou a brincar com uma corrente no pescoço de sua mãe. Passadas algumas estações Gaardner notou que ninguém sentara do outro lado da mãe, mas, se recusou a pensar em preconceito ou medo das pessoas. Era apenas coincidência. Em vão, pois a conclusão inevitável era mesmo real: puro preconceito! Chegada a sua estação, se levantou para sair do vagão e enquanto se dirigia para a porta, escutou uma voz fina como a que ele está acostumado a ouvir em seu trabalho na escola: “você já vai?” Gaardner olhou pra trás e viu que era a menina olhando pra ele que respondeu de pronto: “Sim, é aqui que eu desço e voce fica!” A mãe da criança, inexplicavelmente tentava repreender sua filha por falar com estranho, e na verdade a mãe estava era com vergonha; “vergonha da filha?” pensou Gaardner, já se dirigindo para fora do vagão com outras pessoas saindo quando ainda escutou: “Tchau!” Olhou pra trás, deu tchau mais três vezes e mandou um beijo com as mãos e recebeu outros doces beijos da criança também com as mãos. Gaardner já subia pela escada rolante quando olhou pra trás e viu o trem saindo e pela janela o olhar daquela carequinha o procurando e ainda pode ver o sorriso dela ao avistá-lo pela última vez. Não pode conter uma lágrima escorrer-lhe pela face. Gaardner não era carequinha como ela mas aprendeu que é possível sorrir sempre!
O metrô é realmente sensacional.

Quem evangeliza de fato!

 


Feriado de finados. Pela primeira vez em 10 anos não chovia, pelo contrário, fazia um calor de mais de 30 graus C de temperatura. Gaardner se encontrava na casa do irmão, Flavio, por conta do manto de tristeza nos seus ombros, sobre o qual Gaardner falaria mais tarde, um dia. Por algum motivo ele sabia que essa grande tristeza se transformaria em grande alegria, em algum momento, mas como todo ser humano, era pequeno e não conseguia enxergar os planos de Deus para sua vida; restava ao homem, Gaardner, confiar em Deus, orar e confiar. Pela tradição e significado do feriado, Gaardner se dispôs a ir ao cemitério e checar se estava tudo em ordem com o túmulo de sua avó, onde já se encontrava seu avô, sua bisavó e seu tio, e havia mais alguém, algum parente um pouco mais distante que sua avó havia permitido ser enterrado ali mas ele não conhecia. Foi ao cemitério para atender um desejo de sua mãe que vivia em outra cidade, próxima cerca de 1h de viagem, uma cidade litorânea.
Lembrando que o manto de grande tristeza o fazia viver como se fora um luto, porque tinha recentemente perdido sua esposa, não que ela tivesse morrido, mas o abandonado, Gardner, trabalho, lar, sonhos, planos, ele viu tudo se desmanchar por conta da desistência da esposa que ele tanto amava, e que atribuía muitos defeitos à depressão que sofria, Gaardner lembrava sempre que viver com uma pessoa é ter uma caixa de moranguinhos onde encontramos frutos bons e frutos ruins, frutos grandes e suculentos e frutos pequenos e amargos, e lembrando de tudo isso, Gaardner resolveu caminhar a pé da casa de seu irmão, sua nova morada, até o cemitério distante cerca de 1 kilômetro dali. Percorreu tranquilamente e pode observar que apenas um quarteirão dividia bem duas classes economicamente distintas; saíra do quarteirão da casa de seu irmão e ao atravessar a grande avenida podia perceber pelo tamanho da padaria, do posto de gasolina, do campus de uma escola particular que parecia não terminar nunca, que tudo era diferente, tudo ostentava algo que ele não vira no quarteirão da casa de seu irmão, onde seus sobrinhos brincavam na rua de triciclos com os vizinhos e podia-se lavar o carro na rua sem qualquer repreensão. Agora, não neste lado do bairro, mas do outro, haviam carros blindados que aceleravam sem precisar mudar de marcha, seguranças olhando para Gaardner como se ele fosse algum suspeito, agentes de trânsito, clubes repletos de pessoas, que Gaardner concluiu se tratar depois de condomínios residenciais, poucas pessoas nas ruas a não ser aquelas que passeavam com seu cãozinho de alguma raça conhecida, enfim, alguns passos e tudo completamente diferente.
Seguiu adiante e logo chegou ao cemitério. Não havia cães nem carrões blindados; muito barulho dos ambulantes na porta de entrada e muita, mas muita gente entrando e saindo do cemitério, gente simples, com família, muitas crianças, cães, só alguns viralatas que pareciam estar acostumados ao local. Adentrou ao cemitério, e pode observar alguns túmulos em geral padronizados na sua metragem, todos enfileirados formando como que um corredor onde algumas crianças corriam brincando descontraidamente. Pode também escutar um som de uma canção tocada por um violonista e a voz de um rapaz cantando mas não parecia ter muita qualidade, parecia uma canção de igreja daquelas que os evangélicos costumam cantar. Gaardner era bom nisso, era cristão e conhecia um bom repertório gospel, mas não conhecia aquela música. Parecia vir da capela do cemitério e para lá se dirigiu lentamente observando tudo à sua volta, as pessoas, os olhares, as crianças, os túmulos frios, alguns abandonados outros sendo cuidados pelas famílias... Ao chegar perto pode ver que se tratava de um culto à frente da fachada da capela do cemtiério porque além do cantor de voz não muito convincente, haviam dois pastores, pelo menos ele concluiu de pronto que se tratavam de dois pastores porque usavam batinas idênticas às dos pastores de sua igreja luterana, inclusive as cores litúrgicas lhe conferiam a similaridade, mas, ao ver a distribuição da santa ceia ao povo, viu que os fiéis apenas comiam o pão e não bebiam do vinho e Gaardner logo mudou sua versão para o evento: era uma missa católica porque na luterana, os fiéis tomam também o vinho além do pão e acreditam estar presentes ali naqueles elementos o corpo e o sangue de Cristo, enquanto que na católica, se ensina a transubstanciação, ou seja, o pão e o vinho são transformados, eles viram sangue e corpo de Cristo mas só o corpo é dado aos fiéis cabendo ao padre beber o vinho que vira sangue no ato.
Havia muita gente e a fila para participar da santa ceia era enorme, se estendia ao longo do corredor principal do cemitério abaixo. Gaardner deixou a missa para trás e seguiu por este corredor até encontrar a quadra 10 e não tardou em encontrar o túmulo de seus avós. Num rápido telefonema pelo celular, a cobrar, informou sua mãe sobre o bom estado do túmulo que tinha uma terra por cima como um jardim com plantas ornamentais bem ao lado de uma árvore, cuja sombra foi aproveitada por Gaardner para descansar um pouco enquanto atualizava as informações para sua mãe pelo celular. Desligado o aparelho, Gaardner ouviu gritos ao longe, pareciam ser de mulheres gritando desesperadas. Não se surpreenderia se fossem gritos de desespero pela perda de um ente querido e aquela hora fosse justamente a hora do enterro, do último adeus ou mesmo a hora de prestar uma homenagem à alguém que morrera recentemente. Mas Gaardner se surpreendeu com o aumento dos gritos e de outras pessoas entrando junto no que ele percebeu ser depois uma discussão. Se espantaria se fosse de fato uma discussão em pleno cemitério, no dia de finados. O jeito era conferir, pois os gritos não paravam, mas aumentavam e uma pequena aglomeração já se podia observar ao longe, dentro do cemitério, porém num campo aberto, diferente de onde ele estava. Sem túmulos, o campo tinha cruzes pelo chão e algumas lápides fincadas na terra além de muitas flores e velas queimando. Gaardner também observou que naquele campo aberto só haviam pessoas muito simples, com a aparència de quem teve ou tem uma vida muito difícil, pessoas de todas as idades, pisando por cima da terra, das lápides fincadas no chão, era tudo muito confuso por ali. Não haviam corredores de cimento, era tudo por terra, no chão batido se viam trilhas de terra feitas pelas pessoas que ali caminhavam, mas não havia qualquer sinal de organização da administração do cemitério. Se dirigiu para a aglomeração cruzando este campo e os gritos eram mais fortes e contínuos. Foi então que viu o inesperado: duas mulheres se pegando diante de uma cova coberta de flores, mas estas flores pareciam estar pisoteadas meio que destruídas. Toda aquela gente ali em volta apoiando apenas uma das lutadoras, parecia gente muito pobre porque Gaardner observava suas roupas, como que as únicas que tinham pra usar no dia-a-dia e também para ir ao cemitério. O escàndalo era absurdo. Quando foram separadas, uma delas se retirou reclamando que ia voltar, em meio aos palavrões, com a roupa toda rasgada, a saia mal posicionada na cintura, o sutiã defendendo com suas forças sua função porque a blusa de cima já estava toda rasgada e perdera sua função no corpo da mulher, uma senhora que aparentava 60 anos e pouco juízo... Impressionado, como a maioria das pessoas que ali estavam presentes, procurou saber do que se tratava e um coveiro em meio a risos perplexos lhe disse que a mulher que permanecia em frente à lápide do morto em questão, tinha ido lá para prestar homenagem ao falecido junto com várias pessoas de sua família. Até aí tudo bem, pensou Gaardner que o interrompera perguntando a respeito da outra mulher que saíra com a roupa toda rasgada prometendo que voltaria. O coveiro riu novamente e disse que se tratava de uma outra mulher que o falecido tivera e, que, pelo jeito, tinha raiva dele porque chegou pisando nas flores que haviam sido colocadas sobre o túmulo na terra pela outra mulher e dizendo que o sujeito nao valia nada, que todos que ali estavam eram vagabundos e a confusão estava armada.
E se foi o coveiro rindo.. Gaardner ficou pensando se, talvez, não fosse a primeira mulher trocada pela segunda e as duas se encontraram aqui, enfim.... uma cena inusitada tal como se tinha visto apenas em filmes de comédia. Agora era uma comédia da vida real... triste, mas real. Para Gaardner, no entanto, aquilo não era uma comédia. Por que aconteceu justamente na ala mais pobre do cemitério!! Por que havia essa diferença de dois setores dentro do cemitério!! Para onde essas almas vão depois da morte não existe diferença. Deus não faz acepção de pessoas. ......................................................................................................................
Vencidos todos estes fatos, Gaardner iniciou sua volta para casa pela mesma caminhada, mesma trajetória, passando pela missa que já estava no finalzinho, Gaardner podia ver nos rostos das pessoas um certo conforto após a missa, talvez pelas palavras do padre, de conforto, Gaardner lembrou de um lema da igreja católica para dias como o de hoje, “saudade sim, tristeza não!” e ele concordava muito com isso e podia ver nos rostos das pessoas um certo conforto com a sensação de que as pessoas ali haviam cumprido seu papel, o de prestar a devida homenagem, curtir momentos de saudade, de boas lembranças com o ente querido que ali jazia. Gaardner podia ver algumas famílias com baldes e escovões limpando as paredes dos túmulos, crianças regando as plantas que se encontravam nos jardins criados em cima dos túmulos, outros ainda sentados pensativos à frente do túmulo, embora tudo faça parte de uma bucólica tradição para alguns, para outros no entanto o evento ia muito além de lembranças, pois alguns acreditam que se pode comunicar com os mortos, o que a bíblia fala e ensina que não é possível, a missa pareceu para Gaardner muito oportuna e ela foi terminando e ficando pra trás e o som barulhento dos ambulantes crescia à medida que Gaardner se projetava para fora do cemitério pelo portão lateral.
Atravessou a praça ainda não concluída pela prefeitura, ganhou rua abaixo em direção à avenida principal, aquela que divide o bairro em duas classes econômicas distintas e seguiu pela calçada irregular pensando em tudo o que observara... Sua mente fervia como água no bule pronta pra fazer um café. Gaardner ficou pensativo e admirado com a igreja católica que fizera ali uma missa, não havia oportunidade melhor do que fazer o que o evangelho manda fazer, ou seja, pregar a palavra, confortar as viúvas, lembrar da salvação, da vida em Cristo. Gaardner andava pela calçada da avenida principal pensando em quantas igrejas faziam isto, aproveitavam este momento, esta oportunidade, quando cruzou com um grupo de pessoas fazendo uma algazarra, todas jovens pareciam estar uniformizadas, com uma faixa na testa, não conseguia ler de longe mas podia identificar na camisa deles o nome “Jesus”. Ao aproximar mais pode ver que se tratava de um grupo que vinha de um encontro na zona norte da cidade dos evangélicos, chamado “marcha para Jesus”. Gaardner lembrou que algumas igrejas lutam há anos por este evento e agora se tornou lei o dia da marcha para Jesus e coincide com o dia de finados. Gaardner lembrou que vira na televisão coberturas e flashes de reportagem sobre o evento, os números acerca de participantes do evento eram, como sempre, desencontrados, muitas bandas evangélicas subiriam ao palco e Gaardner pode identificar um casal de pastores que se autodenominam apóstolo e bispa, presentes no palco e pela TV, Gaardner lembrou que se tratavam dos mesmos que se encontravam presos em outros países por transporte ilegal de dinheiro...
A pergunta que Gaardner fazia agora era outra: Quem de fato neste dia evangelizou!! Os evangélicos nesta marcha ou os católicos nos cemitérios?
Gaardner foi pra casa (que não era a dele).

Dois olhares



Um domingo impecável! Era um dia assim que Gaardner sempre quis ter. O sol no topo do domingo que Gaardner desenhara para si. Gostava dos trens, metrô subterrâneo ou de superfície, tanto fazia, importava mesmo era a rígida obediência que os trilhos impunham àquela pesada máquina que preguiçosamente se movia. E lá estava Gaardner, às 6h da manhã indo pegar o metrô para mais um concurso público. Gaardner era concurseiro. E estava especialmente empolgado porque conhecia bem as disciplinas constantes do edital, vislumbrava a possibilidade de ir trabalhar em Brasília, de onde, ouvira falar, as coisas são bem planejadas por lá. Mas sua empolgação aumentara porque iria fazer a prova na associação Campos Salles, no bairro da Lapa, e, para isso, iria pegar o trem na estação da luz. A estação fora toda reformada, recuperada ao seu estilo inglês, era bucólica e charmosa; Gaardner não cansava de olhar para toda aquela arquitetura e de pensar em quanta história aquelas paredes e estruturas guardavam ali. Eram estruturas de madeira e alvenaria que foram testemunhas de tantas coisas, tantos momentos, despedidas, chegadas e o alto comércio que passava por ali rumo à Santos, a cidade portuária. Gaardner pensou em como esses momentos de partida ou chegada são importantes e marcantes na vida; ele próprio estava passando por algo assim... lembrou por um momento de Maria Rita cantando... a vida é um vai-e-vem... recordou Tim Maia.. viveu morreu na minha história... Lembrou-se que, quando tinha por volta de 10 anos, seu avô resolvera fazer uma viagem para o interior e o levou... de trem, claro; e fora ali, bem naquela estação, naquela plataforma, Gaardner nunca esquecera o horário, o trem sairia às 10h12 e acabou saindo pouco depois das 10h40. A estação tem mesmo uma magia, um significado, ainda que simbólico, mas relevante na vida do ser humano... ao menos para Gaardner; tanto que ele lembrara inclusive do horário de partida do trem em que viajou com seu avô!!
E aqueles trilhos!! Gaardner viu deslizar por eles um trem que carregava um número sem fim de vagões carregados de cimento com o peso total timbrado nas laterais dos mesmos: “100 toneladas” !!! E deslizavam suaves como patins no gelo. Aquilo era, para Gaardner, a perfeição. Por que sua vida não andava assim nos trilhos....................................................................................
Ele bem que queria, todos querem... Mas a plataforma estava, como sempre, agitada, afinal, véspera de dia das crianças, muita gente de outras cidades na circunvizinhança vinha de trem para aproveitar o comércio barato da região central da cidade de São Paulo. As linhas de trem interligavam as cidades em torno da grande São Paulo, cidade de Gaardner. O trem chegara e ele tinha de fazer a prova no bairro da Lapa, mas voltaria por ali e, quem sabe, iria até um pouco além para curtir o trem e só depois então, voltaria ao caminho de casa....

Voltou, já passava das 13h, o sol firme, os tijolos enfileirados nas paredes inglesas da estação da Luz brilhavam pelo verniz e o raio do sol, Gaardner reparara que os trens naquele trecho correm no sentido inverso do que correm, por exemplo os carros. Ah, herança londrina, claro! Gaardner queria muito passar nesse concurso, mas, lá no fundo, sabia que seria difícil, os problemas iam sufocá-lo a ponto de não conseguir se sobressair nesta prova. Ainda não desta vez. Ele olhava para a questão e, ao terminar a leitura tinha que ler de novo, e de novo até entender o que diz o enunciado, mas o tempo em média para se responder uma questão em um concurso é de 2,5 minutos. Tudo isso porque o manto da grande tristeza o cobria e pesava sobre seus ombros. A essa altura pode-se dizer que esse manto de tristeza à que se referia sempre Gaardner era o triste acontecimento de sua vida: sua esposa, que ele tanto amava e ainda ama o deixara... talvez o trocara, quem sabe, mas Gaardner falaria sobre isso mais tarde. Decidiu então cumprir o que havia proposto para si mesmo e desceu na plataforma da estação sentando por ali num banco de ripas de madeira, tradição das estações ferroviárias e leu um livro que seu irmão emprestara para ajudá-lo a vencer o sufocamento dos seus problemas. O livro chamava-se “A cabana” e Gaardner gostou muito. Então, chegando o outro trem com destino à Guaianazes, região do extremo leste de São Paulo, Gaardner sabia que aquele era o expresso turístico da companhia de trens e ia direto, sem parada até a um bairro chamado Itaquera e embarcou nesse trem. Sentou à janela e em frente a ele, um casal com uma filha, menina linda, dócil que também observava a janela oposta. O rapaz, simples, permanecia com o braço extendido por sobre os ombros da esposa, sentado ao lado dela, meio que exibindo um troféu que orgulhosamente mostrava e dizia com seu olhar: é meu! De vez em quando mexia com sua filha que se divertia vendo as casinhas passarem, os carros passarem, as pessoas, as nuvens, os postes, os fios. Sua esposa era tão jovem quanto ele, e especialmente bonita, com traços marcantes que destacavam seu rosto e seu olhar era doce e ao mesmo tempo profundo. Gaardner não pode deixar de perceber isso, aliás, ninguém que entrou no vagão deixou de admirar tanta beleza em um rosto pequeno e singelo que mesclava beleza, determinação, satisfação e singeleza. Seus olhares e os de Gaardner se flagraram mais de uma vez, os dele, presos à beleza dela, mas os dela... o que os prendia em Gaardner afinal? Ele estava na janela oposta, de frente para eles refletindo, inculcado, no que se passava na cabeça daquela jovem e bela mamãe. Cada vez que os olhares se encontravam, ambos disfarçavam e rapidamente olhavam para a criança que estava simplesmente vislumbrada inocentemente com o movimento do trem. Gaardner era bem mais velho, e nem se considerava tão bonito, pelo menos não o suficiente para chamar a atenção de uma jovem linda que carregava nos ombros o braço pesado de seu marido que permanecia alheio a tudo isto. Concluiu então que, seguramente, ela se pegava olhando pra ele movida mais pela curiosidade do que por qualquer outra coisa, afinal, o que estaria fazendo um homem grande (1,95m), estilo europeu, alemão pra ser mais exato, num trem indo para uma região periférica, carente e distante da cidade? Mas, no fundo dos seus sentimentos, bem lá no fundo mesmo, Gaardner queria que ela o olhasse achando-o bonito, atraente, queria que os dois pudessem combinar beleza, estilos, pensamentos, gostos e preferências, assim como panela e tampa certa, mas resignou-se e tentou fixar os olhos nas casinhas que passavam pela sua janela do trem. Descobriu então a imagem dela refletida no vidro da janela e viu ali uma chance de poder fazer duas coisas que davam prazer: ver a paisagem e observá-la sem comprometer nada nem ninguém, seria o segredo dele. E não é que ela também descobriu esta alternativa e lá estavam os dois no mesmo feixe de imagem? Vez ou outra eram interrompidos pela filha ou pelo marido dela que, dormindo recaia sobre ela. Mas no que ela estava pensando afinal?

Pedra e pó

Pedra e pó


Foram dias difíceis para Gaardner. Sua esposa estava com Hepatite de grau mais leve mas sempre preocupante. Esta situação causara a vinda repentina de seus sogros para são Paulo para cuidarem da filha, não que não confiassem em Gaardner, mas era coisa de família, daquelas que só quem é da família pode entender. Gaardner cuidaria bem dela, ele é do tipo cuidadoso, carinhoso, embora corresse nas veias sangue nórdico, havia nele um calor humano típico brasileiro e não a deixaria sozinha ou com alguma necessidade em momento algum. Ele a amava e a ama como nunca. Passado um tempo, num dia destes, ele pegou seu carro e foi caminhar um pouco com seus sogros e sua esposa, afinal, fazia quase um mês que ela estava acamada e não saia para nada, aliás, por ordem médica sequer levantava da cama, eram raras as vezes que se levantava para necessidades básicas e para mexer um pouco o esqueleto. Mas naquela noite resolveram que iriam apenas andar de carro. Gaardner estava muito pensativo e gostava de fazer isto: Sair caminhando de carro ou a pé a observar as pessoas e as coisas do mundo. Passou então por algumas ruas, e foi mostrar para os sogros a nova ponte construída e recém inaugurada, conhecida como ponte estaiada de uma avenida que antes se chamava águas espraiadas e, com a ponte, recebera novo nome em homenagem ao ex-dono da maior emissora de TV do país, cujo escritório em são Paulo fica ao lado desta ponte: Av. Jornalista Roberto Marinho. A ponte realmente é linda e moderna. O concreto e seu poder. Lembrou-se de vários poemas sobre a rocha, sobre o símbolo que representa uma ponte ligando uma coisa a outra, um lugar ao outro, unindo, entrelaçando, aproximando, firme como uma rocha, arquitetonicamente feita para representar firmeza, progresso, união, força, modernidade... Voltaram por esta mesma avenida e no final dela Gaardner pode observar que ela cortava uma favela e as crianças faziam da faixa lateral à direita da avenida, o quintal de seus barracos, podia ver inclusive quem colocasse cadeiras e se sentasse na própria avenida, afastando os veículos em movimento para outras faixas mais à esquerda. Foi quando Gaardner percebeu que um carro passava bem à direita, devagar e quase parou, andando muito devagar mesmo; nisso, saiu um rapaz do barraco, se dirigiu à janela do veículo que se aproximava e entregou ao passageiro um pacote, parecia conter pedras ou algum tipo de droga, ao que o passageiro lhe entregou simultaneamente uma nota, dinheiro, mas não dava pra ver o valor do dinheiro entregue. Rapidamente o carro se foi e o rapaz voltou ao barraco. Que paralelo, pensou Gaardner, estas pedras eram entregues no estilo americano “drive-thru”, bem diferente das pedras que ele pensou quando esteve na outra ponta da avenida numa ponte que lhe inspirava até poesia. Do progresso, ao pior da condição humana, de um lado pedras e rochas, concreto simbolizando o progresso do ser humano, mas de outro, pedras e pó que mostram a potencial degradação do ser humano, entregue em “drive-thru”...

Do ouro ao pó

Do ouro ao pó


Gaardner não tinha o hábito de usar jóias, bijouterias, corrente de ouro ou qualquer penduricalho que o adornasse. Não foi criado assim nem desenvolveu o gosto pela coisa. E é preciso gostar de ouro para lidar com ouro, sua esposa o ensinara isso, mas a simplicidade de Gaardner era notória. Não que quem mexe com ouro não seja simples, mas se faz muita confusão e ouro é significado de riqueza e riqueza não é ligada à simplicidade, então, tem-se uma certa dificuldade em entender que quem gosta de ouro possa ser uma pessoa simples. Mas Gaardner aprendera isso com sua esposa mas não conseguia gostar de ouro; teria falta de ambição? Teria medo de usar algo de valor nesta cidade absurdamente grande, descontrolada e violenta? O fato é que Gaardner não dava muita atenção a estes adornos sejam eles de ouro ou apenas folhados, nem era comum vê-lo andando na conhecida rua do ouro no centro da cidade onde morava. Sua esposa era o oposto. Ela não era deixada ao luxo nem tinha vida de dondoca, pelo contrario, a vida dos dois não era fácil, passavam por dificuldades financeiras mas lutavam juntos sempre e o amor os unia muito nestas horas difíceis. Ela tinha no entanto, gosto pelo dourado, gostava e entendia de peças de ouro como ninguém, Gaardner vivia dizendo para ela trabalhar só com isso. Sabia reconhecer de bate-pronto, uma peça de 18 ou 16 kilates, sabia mesmo as regiões do país que forneciam o ouro de 18 kilates ou de outra qualidade. Sentia o cheiro de cumbuca queimada, quando tentavam empurrar para ela uma bijuteria barata no lugar de uma peça de ouro de qualidade, sem impurezas, que Gaardner teria comprado sem pestanejar mas ela, ah, ela teria literalmente rodado a baiana na frente do vendedor, e olha que ela é filha de baianos, bons baianos. Já haviam combinado entre si que Gaardner não compraria alguma jóia para ela, mas ela escolheria para os dois. O problema é que Gaardner se esquecia de usar e aí o discurso feminista sobre o homem largado corria solto. Gaardner era amado por sua esposa. Certa vez a acompanhava em uma visita àquela rua do ouro no centro da cidade e se divertia ao ver sua esposa discutindo com as vendedoras e balconistas sobre os produtos. Como ele gostava de ver sua esposa o olhar lá do balcão e sorrir com sorriso puro sincero que só ela tinha. Gaardner jamais esquecerá este rosto. Por estarem sem dinheiro não levavam nenhum modelo, mas ela experimentava todos. Nos dedos, no pescoço, até correntinhas para o tornozelo tinha. Ao sair da rua, Gaardner foi trabalhar, seu trabalho ficava ali perto, e sua esposa foi para a estação de metrô de volta para casa. Despediram-se trocaram recomendações e beijos e se foram.
Depois do trabalho, Gaardner, visivelmente cansado, também pegou o metrô na estação próxima ao trabalho e sentou assim que conseguiu uma vaga no trem, não havia muita gente. Era o último vagão onde há um espaço destinado a pessoas portadoras de algum tipo de necessidade especial. Havia particularmente um espaço reservado aos chamados cadeirantes, isto é, os que usam cadeira de rodas para se locomoverem e Gaardner sentado em frente a este espaço pensava no trabalho, no dia, no passeio com sua esposa na rua do ouro...
Cerca de duas estações depois de Gaardner ter embarcado, entrou no mesmo vagão onde estava, um senhor em uma cadeira totalmente especial. Gaardner não tinha visto nada parecido. Parou naquele espaço em frente a ele. Bem vestido, aproximadamente 40 anos de idade, o rapaz estava em uma cadeira mais alta que as comuns, vermelha, totalmente motorizada, elétrica, com duas baterias na parte de baixo, mas o banco era excepcionalmente alto, talvez 1,50m do chão, com três rodas, sendo duas traseiras grandes e uma dianteira pequena que girava para guiar a cadeira, como um volante. Havia um encosto pequeno, mas suficiente para apoio das costas e, à sua direita, um manche, uma espécie de joy-stick, que Gaardner concluiu, espantado, se tratar do comando principal da cadeira, que definitivamente não era uma cadeira comum. Era uma pessoa de estatura média-alta, porte físico forte, sem qualquer aparente deformação física exceto uma coisa que impressionava... A ausência de braços e pernas! Isto mesmo! Gaardner não pode deixar de observar a cena: O cidadão não tinha nenhum dos braços ou pernas. As pernas terminavam logo após o quadril antes mesmo de chegar aos joelhos e os braços mal desciam dos ombros, terminavam antes da manga curta de sua camisa social que vestia. Não parecia ser de nascença. Talvez ele tivesse sofrido algum acidente ou alguma doença o fizera amputar os membros. Ao lado dele uma pasta e era perceptível que o rapaz também voltava do seu trabalho. Parecia ser um vendedor, corretor talvez, um balconista ou atendente do funcionalismo público, não dava para saber exatamente. Mas como ele comandava aquele carrinho ou cadeira, Gaardner nem conseguia imaginar. De repente, lembrou do passeio que fizera com sua esposa pela rua do ouro, experimentando todo tipo de bijuteria, no pescoço, nos dedos, no pulso, no tornozelo, nas orelhas... Mas este homem não tinha dedos para isso, aliás não tinha mãos, quer dizer, não tinha nem braços. Então, sem tirar os olhos do rapaz, apalpou suas pernas e parecia estar sentindo-as como se fosse a primeira vez que tocava com suas mãos as suas próprias pernas e em seguida, pode observar curiosamente o rapaz que ajeitou a cadeira através do comando em forma de joy-stick. Ele o fez com o queixo. Por isso aquele comando era tão alto. Mas foi Gaardner quem ficou de queixo caído. De repente, se flagrou olhando fixamente já por algum tempo o rapaz que tranquilamente olhou para Gaardner e para os demais que estavam a sua volta e cumprimentou a todos com um movimento da cabeça e um sorriso singelo. O rapaz dizia muita coisa com aquele olhar, não precisava dirigir nenhuma palavra.
Gaardner caiu em si e junto com ele todos os demais que estavam no vagão à sua volta, e deixaram de olhar para o rapaz e trataram de recolher cada um ao seu próprio pensamento enquanto o trem seguia; dava pra ouvir os pensamentos de cada um ali presente mas o de Gaardner falava mais alto. Sem dinheiro para comprar as jóias que sua esposa queria lembrou de agradecer a Deus pela saúde plena que os dois colhiam...

São mesmo insondáveis os caminhos do coração, quem pode trilhá-los?

São mesmo insondáveis os caminhos do coração, quem pode trilhá-los?


Era um sábado de muita chuva, mas naquele início de noite não chovia. Pode-se dizer que caíam algumas gotas, porque Gaardner não sentia sua cabeça molhar, mas sentia as gotas baterem-lhe no rosto à medida que caminhava pelas ruas mal iluminadas no bairro onde morava. Carregava consigo um guarda-chuva longo e preto, mas não o abriu, preferiu sentir a sensação que lhe permitia as gotas refrescando seu rosto que demonstrava não um cansaço, mas uma fisionomia de quem se sentia impotente diante de si mesmo, pra não dizer fracassado.
Estava mais observador naquele momento do que em outras vezes, Gaardner gostava de observar as coisas, o tempo, as pessoas, fatos que a toda hora ocorrem à volta da gente e que muitas vezes não percebemos, apenas damos conta quando acontece com a gente; pode observar que, sem precisar olhar para o relógio de fato, se tratava de umas sete horas da noite, , apenas observando as pessoas e as casas por que ia passando ao longo de sua breve caminhada até a vídeo-locadora. Podia ver uma pequena porta de uma casa, um sobrado, mas a parte de cima estava toda escura. Apenas embaixo havia uma luz em uma sala ao fundo da casa que chegava até esta pequena porta. Gaardner parou e observou, sem que pudesse ser notado, que se tratava de uma sala de residência transformada em salão de beleza, pois vira uma mulher sentada diante de um espelho com todos os apetrechos comuns e inerentes à atividade presos ao seu cabelo e uma mulher atrás dela tendo em mãos algo parecido com um secador de cabelo. Com certeza era a última cliente do dia, não havia mais ninguém lá dentro muito menos fora em frente à casa. Também deduziu que a dona do salão era a moradora da parte de cima do sobrado. Mais adiante, passou ao lado de uma caminhoneta furgão que liberava um ar quente vindo da parte da frente onde fica o motor. Como bom mecânico que foi, Gaardner pode observar que o furgão de entregas havia sido bem estacionado ali recentemente depois de trabalhar o dia inteiro, com o motor muito quente, dormiria ali e seu dono provavelmente morava na casa em frente e havia encerrado o longo e exaustivo trabalho do dia. Seguindo seu trajeto, rumo à vídeo-locadora, Gaardner adorava assistir um filme junto de sua esposa e seu cãozinho que se enfiava debaixo do edredon, pode observar também, próximos a uma árvore grande, dessas conhecidas como seringueira urbana, que de tão grande escurecia tudo à sua volta, três rapazes desempacotando algo e dividindo entre si algumas trouxas que Gaardner preferiu não observar em maiores detalhes. Não queria confusão, apenas aproveitara a oportunidade de sair para caminhar um pouco e tentar se livrar desta sua sensibilidade e percepção típicas de artista, Gaardner sabia que não era um artista da dimensão que a mídia dá mas sabia que tinha um artista dentro de si e por ser músico e compositor se julgava artista especial, saiu apenas para curtir sua vida como um professor de férias, muito bem casado, ainda não no papel mas em breve o faria com sua mullher, para ele a mulher e companheira mais fantástica que conhecera na vida, morador há um ano e meio de um bairro residencial, mas próximo à grandes avenidas, que servem como artérias de um trânsito caótico típico de grandes capitais. Seguiu o caminho e pode observar dois senhores conversando numa esquina com uma sacola branca contendo provavelmente pães e salgados para o lanche logo mais tarde. O detalhe é que eles conversavam em japonês, e ele gostou disso porque tinha tudo a ver com o bairro onde ele morava, bairro da Saúde, e isso o trazia a uma situação que ele queria vivenciar, o dia-a-dia de um bairro, fazendo-o esquecer de sua sensibilidade.
Chegando finalmente à vídeo-locadora, o dono da loja reclamou por estar devolvendo o DVD só agora, e disse que o DVD, embora dentro do prazo, teria que ter sido devolvido bem antes, até as cinco horas da tarde. Gaardner, prudentemente pediu para checar o boleto que trazia o horário de devolução, mas não havia nada escrito lá. Contrariado, o dono da loja aceitou as justificativas e cobrou só o valor combinado, mas continuou reclamando que perdeu a chance de alugar o filme para outra cliente. Gaardner não se deixou envolver pela irritação inoportuna do balconista, pediu desculpas e saiu decidido: Se o dono da loja perdeu uma locação, também perdera ali naquele momento um cliente. Mas estava decidido a não se irritar com nada e aproveitou a ajuda da chuva que não molhava, e voltou para sua casa.
Gaardner era do tipo que precisava caminhar, se possível, diariamente. Caminhava com dois objetivos bem definidos: Lembrar-se que existe um mundo à sua volta e que todos nós temos muita coisa em comum quanto à rotina e obrigações, e, segundo, para colocar seus pensamentos em ordem. Seus passos eram ritmados e a cada passo ou batida de seu ritmo interno, Gaardner ordenava pensamento por pensamento, um a um, definia o que, quando e como iria fazer, e o que poderia ter feito mas não fez, isto ele iria arquivar em sua mente para não errar numa próxima vez. É como se ele estivesse conversando consigo mesmo e a cada passo era um cenário diferente, uma frase, uma pergunta ou uma resposta novas. Algumas demoravam longos passos, outras eram resolvidas ali, em um único e certeiro pisar de pés. Para Gaardner a vida era assim, certas respostas teriam que ser perseguidas por um bom tempo até entendê-las e outras em um lance único, se obtinha a resolução. Mas na fase de sua vida, aos 41 anos, segundo casamento, ainda sem filhos, professor de música, Gaardner sentia que as respostas para suas perguntas viriam, mas através de longas caminhadas e a passos lentos. A vida lhe ensinara a controlar sua ansiedade, ao menos um pouco mais em relação às épocas anteriores e às outras fases quando, bem mais jovem, Gaardner respondia aos seus impulsos e queria fazer suas caminhadas sempre em tempo recorde. O resultado era sempre pensamentos desorganizados e respostas confusas, sem compreensão. Agora porém, a vida lhe ensinara, ao menos um pouco, que o tempo define absolutamente tudo em sua vida. Gaardner achava isso muito forte, mas, acreditava ter vivido metade da sua vida e o fator tempo foi o mais preponderante e decisivo em todas as etapas de sua vida. O tempo agia em todas as áreas da vida e do coração, só não agia em um setor dentro de Gaardner, chamado sensibilidade. Ele se perguntava sempre em suas caminhadas: Por que era tão sensível às coisas? Por que, na maioria das vezes ele dava um peso enorme a coisas insignificantes e passava despercebido pelas coisas que lhe eram óbvias? Por que a perspicácia lhe permitia acertar no pré-julgamento que fazia das pessoas que se aproximavam dele e para isso ele não precisava do fator tempo? Mas às vezes ele errava tanto... Esta mesma perspicácia muitas vezes o isolava das pessoas que se afastavam por se verem desnudas diante de sua percepção. E ao mesmo tempo, Gaardner tinha dificuldades em exprimir o que sentia a respeito de qualquer coisa e ele sentia muito, não era capaz de ficar indiferente diante de qualquer notícia ou situação nova. Gaardner tinha uma alma boa e chegou a conclusão de que ansiedade todos temos, alguns aprendem a controlá-la, outros usam remédios...

sábado, 10 de outubro de 2009

A morte e o morrer

Sobre a morte e o morrer

Rubem Alves


O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define?
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...
Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.
Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”
Dona Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”
Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.
Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".
Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.
Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.
Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?
Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.
Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".
Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.
Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.

(Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.)

domingo, 13 de setembro de 2009

CONCURSOS

Virei concurseiro!! É isso mesmo! É muito mais que estudar. É um projeto de vida. Você abre mão de muitas coisas para se dedicar somente aos estudos, às mudanças nas leis, abertura de vagas, vai descobrindo como funciona a estrutura de governo e tantas outras coisas concernentes ao funcionalismo público.
Cada vez mais pessoas entram para esse universo chamado concurso público e, consequentemente aumenta a concorrência e o nível se eleva.
Vou postar aqui textos sobre temas importantes que invariavelmente aparecem nas questões apresentadas nos concursos públicos.
Há 1 ano e meio eu mal sabia quem era ESAF e pela primeira vez eu abria uma constituição.
Hoje, setembro de 2009 ainda não ingressei no funcionalismo público mas sigo nesta longa jornada e aprendi uma lição fundamental.
Não desistir nunca, mas persistir até passar..