Entrei num lugar onde me disseram pra me sentir em casa
Não sei o que procurava, mas tinha uma necessidade enorme de encontrar algo ou alguém.
Logo de cara, comecei a vasculhar a sala
procurando pistas, dicas, removi móveis do lugar
Levantei o tapete, desmontei o armário, o lustre
Bati no teto tentando ecoar algo oco
Quebrei a parede tijolo por tijolo
Tirei o piso, taco por taco
Desmontei a TV, o equipamento de som
Rasguei cada almofada do sofá
Concluí que procurava no lugar errado
Mudei de cômodo e reiniciei toda minha bagunça
E um armário veio literalmente abaixo sobre minha cabeça
Desconfiado de que a casa era a errada
Fui à vizinha e incansavelmente revirei absolutamente tudo
Cavoquei o jardim, tirei o telhado, telha por telha, calha após calha,
quebrei o anão, o cogumelo e a branca de neve
olhei os encanamentos e soprei em cada um deles
Na esperança de encontrar alguma pista
Foi quando vi um livro fechado
Comecei a destacar folha por folha
rasgando uma por uma
a primeira em branco
a segunda em branco
a terceira em branco
todas em branco
Quanto mais eu destacava as páginas
mais folhas o livro tinha
todas em branco...
Esgotado atirei o livro o mais longe que pude
E como um bumerangue
Ele acertou em cheio meu peito
Caí sentado e vi a casa toda arrumada
o jardim arrumado tudo estava intacto no seu lugar
No chão à minha frente, o livro aberto na página 1 e uma caneta
pronta para ser usada...