Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



sábado, 14 de outubro de 2017

A carta






Certa tarde um morador de rua, recebeu uma carta;
Andando pelas ruas do cais, tentou lê-la,
Mas a vida não lhe dera oportunidade de aprender...
Conseguiu identificar algumas poucas palavras,
E percebeu que era da sua família.
Família que não dava sinais havia anos;

Curioso, procurou a primeira pessoa a cruzar com ele na rua;
Pediu ajuda.
Ao pegar a carta com as mãos, o moço começou a ler silenciosamente.
O morador observava atentamente as expressões do rosto do moço,
Mas de repente, ele baixou as sobrancelhas  e fechou a cara;
Com certa brutalidade, devolveu a carta ao morador de rua,
Meio que empurrando-a contra o peito e saiu andando depressa
Sem dizer nada.

Sem entender direito, continou caminhando
Pelas ruas do porto, e encontrou uma mulher.
Talvez com ela tivesse mais sorte;
Ao menos poderia esclarecer o comportamento
Do rapaz anterior.

A mulher, sorridente, pegou a carta e começou a ler;
Logo depois, o sorriso sumiu e o semblante apreensivo
Surgiu seguido de uma fúria incomum.
O morador ficou sério e antes que pudesse perguntar algo,
Ouviu dela:
“O senhor não tem o que fazer não?”

Será que tinha algum palavrão?
Algum tipo de ofensa?
Os palavrões ele sabia ler bem.
Não tinha nada ali.

Encontrou mais 3 pessoas que enfurecidas reagiam:
“Como você foi fazer isso?”
“Onde você estava com a cabeça?”
“Não é possível! Não acredito que isso seja verdade!”

Sem entender absolutamente nada,
E quase sendo arrastado por um dos transeuntes
Para um carro da polícia que ali estava parado,
Desvencilhou-se recuperando a carta
E correu para o cais do porto,
Subiu uma rampa
Mas logo foi parado por alguns marinheiros:
“Alto lá!”
“Passagem proibida, mendigo!”
“Ta correndo do que?”

O morador se desculpou
E explicou sobre a carta
E que toda vez que dava para alguém ler
Ele quase era agredido.

Mas já tinha desistido e ia jogar a carta no lixo,
Quando um dos marinheiros pediu para ler a carta:
“Não, o senhor vai me xingar, vai me jogar aqui no mar.”
“Não vou fazer isso, juro!”
“Ah, deixa pra lá, já estou indo, obrigado!”
“Ei, espere, eu juro que não vou fazer nada,
Apenas vou ler em voz alta pra você”.

O morador, receoso concordou, suspirando,
E entregou a carta ao marinheiro para ler,
E se posicionou de lado por segurança.

O marinheiro pegou a carta,
Mas deixou o chapéu cair.
Ao se pegar o chapéu, ainda no ar,
Largou a carta, que, levada pelo vento
Se perdeu no mar abaixo da rampa....