O metrô é de fato, o lugar onde os sociólogos deveriam passar a maior parte do tempo, apenas observando atentamente as coisas, pessoas e até mesmo ouvir algumas conversas, não que isso seja a melhor e mais educada coisa a se fazer, pensou Gaardner. Estava no metrô da paulista, a conhecida linha verde, na estação consolação, uma depois do hospital das clínicas um dos maiores complexos hospitalares da América Latina, para quem vai no sentido do alto do Ipiranga, zona sul da cidade. O vagão não estava cheio, pelo contrário, havia bancos vazios e Gaardner notara que havia uma mãe com uma criança talvez 2 anos, 2 anos e meio, não mais que isso. Uma menina. Gaardner também observara que ninguém sentou ao lado da mãe e da criança, talvez só uma coincidência e ele preferiu pensar assim. Gaardner se aproximou e sentou ao lado desta mãe e a menina no colo, que brincava sem parar e conversava com a mãe perguntando talvez sobre tudo. A menina então, fez silêncio, afinal era impossível não perceber a aproximação de Gaardner e seus 1,95m de altura. Olhou bem para Gaardner que sorriu simpaticamente para a menina e se deu conta então, que a menina estava vindo de uma seção de quimioterapia, isso era comum encontrar naquelas estações e naquela região por conta do complexo hospitalar, o fluxo de pessoas que vão fazer tratamento era uma rotina no metrô e Gaardner sorriu para aquela menina carequinha, com alguns fios longos de cabelo, não mais que 10 ou 15, imaginando como seria ainda mais linda aquela criança de cabelos. Concluiu afinal, que era mesmo, uma linda criança. De repente os dois se flagraram olhando fixamente um para o outro e, meio que sem graça, ambos trataram de retomar o que estavam fazendo: Gaardner olhou para a janela e a criança continuou a brincar com uma corrente no pescoço de sua mãe. Passadas algumas estações Gaardner notou que ninguém sentara do outro lado da mãe, mas, se recusou a pensar em preconceito ou medo das pessoas. Era apenas coincidência. Em vão, pois a conclusão inevitável era mesmo real: puro preconceito! Chegada a sua estação, se levantou para sair do vagão e enquanto se dirigia para a porta, escutou uma voz fina como a que ele está acostumado a ouvir em seu trabalho na escola: “você já vai?” Gaardner olhou pra trás e viu que era a menina olhando pra ele que respondeu de pronto: “Sim, é aqui que eu desço e voce fica!” A mãe da criança, inexplicavelmente tentava repreender sua filha por falar com estranho, e na verdade a mãe estava era com vergonha; “vergonha da filha?” pensou Gaardner, já se dirigindo para fora do vagão com outras pessoas saindo quando ainda escutou: “Tchau!” Olhou pra trás, deu tchau mais três vezes e mandou um beijo com as mãos e recebeu outros doces beijos da criança também com as mãos. Gaardner já subia pela escada rolante quando olhou pra trás e viu o trem saindo e pela janela o olhar daquela carequinha o procurando e ainda pode ver o sorriso dela ao avistá-lo pela última vez. Não pode conter uma lágrima escorrer-lhe pela face. Gaardner não era carequinha como ela mas aprendeu que é possível sorrir sempre!
O metrô é realmente sensacional.