Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

prospectivas

A mídia é especialista em retrospectivas dos anos que se vão.
Mas, e as "prospectivas"?

Eram 5h da manhã, com algumas manchas de azul claro surgindo ao leste no céu escuro ainda.
Estacionei meu carro em frente a um bar, do outro lado da rua,
em um recuo de uma farmácia fechada ainda,
com seu portão de aço de enrolar,
e nele o farol do carro iluminava "proibido estacionar"...
Bem abaixo dos dizeres, um amontoado de papelões
ficou bem próximo ao para-choque do meu veículo.
Desliguei o carro mas com os faróis ainda acesos
pude ver um braço emergindo no meio daqueles papelões
sujo, com a manga rasgada, punho cerrado,
gesticulando para o alto.
Assustei e me dei conta de que havia uma pessoa
por baixo daquele "cobertor feito de celulose"...

Ele estava incomodado com a brutalidade minha
ao estacionar o carro e com a luz dos faróis diretamente
em seu leito, seu pequeno canto onde esperava
ter um pouco de paz para dormir.

Paz esta que interrompi bruscamente...

Apaguei os farois desci do carro, e me dirigi ao bar
atravessando a rua deserta ainda, com algumas pessoas noctívagas,
e outras madrugadoras, como eu, andando depressa...
Alguns cambaleavam e se abraçavam.
Pude ouvir ainda aquele importunado dos papelões resmungando alguma coisa
mas não dava pra entender.

Chegando no bar, no balcão já estava o de sempre:
Café com leite e um pão com manteiga.
Canoa francesa na chapa, como costumavam dizer por lá.

Duas mulheres conversando com forte sotaque nordestino,
me chamaram a atenção atras de mim,
Sentadas a uma mesa de fórmica amarela:
"não vou nunca mais a essa 25 de março."

Até o próximo ano, pensei comigo.

Paguei a conta e voltei ao carro.
Os papelões haviam sumido!
Olhei para os lados mas não vi nada.

E eu nem o convidei para um café!