Ontem, pela primeira vez este ano, pus os pés em uma igreja. Não estava preocupado se havia santos nas paredes, desenhos de pombas e nuvens atrás do altar, cortinas ou a rosa de lutero. Procurava apenas um pouco de silêncio, e um banco para conversar com Deus. Logo que entrei numa igreja, vi que se tratava de um lugar antigo, tradicional e ao mesmo tempo moderno. Na entrada pude observar na coluna do pórtico, um aparelho que, ao detectar a presença das mãos, automaticamente borrifava água sagrada. Uns passos mais e me deparei com um equipamento do tamanho de uma mesa, cheia de velas eletrônicas que acendiam por um período ao colocar algumas moedas. Certamente não haveria mais risco de incêndio ali.
Entrei e podia escolher o banco que quisesse, havia de sobra. Mas vi ao fundo, do lado direito da nave, uma sala menor com bancos mais confortáveis e apoios para os joelhos, chamados de genuflexórios. Era o que eu precisava. Não me lembro de, na minha vida, ter me ajoelhado, se não algumas vezes no meu quarto em desespero. Levei alguns minutos até ter coragem de ajoelhar, embora não houvesse mais do que 3 ou 4 fieis ali. Fiz de olhos fechados e pude sentir vagarosamente o ritmo dos meus pensamentos diminuírem. Aos poucos estava desconcentrado das coisas do exterior, das pessoas à minha volta e podia sentir meu corpo pesando sobre meus joelhos e cotovelos que se apoiavam sobre um livro aberto. Lentamente abri os olhos e vi um pequeno altar com uma arca dourada, flores roxas e vermelhas e um silêncio surpreendente. Fiquei leve, respirava calmamente, nem meus óculos me incomodavam mais. Fiquei naquela posição alguns minutos sem pensar, sem falar, sem pedir, sem resmungar, sem olhar para os lados, nem pra frente, embora os olhos abertos perfurassem a parede da igreja. Em paz, comecei então a orar, eu achava que sabia orar mas estava encontrando alguma dificuldade, pedindo isto, aquilo, depois chacoalhei a cabeça me desfazendo destes pedidos. Comecei a lamentar meus erros e fracassos e logo meu corpo começou a pesar sobre os joelhos novamente. Desmontei minha lista na cabeça e me pus a pensar no que Deus queria de mim. Em vão. Olhei para baixo, para o livro aberto no qual meus cotovelos se apoiavam. Levantei-me, sentei e vi que estava aberto no livro dos Salmos, no capítulo 42 que assim começava:
"Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim por Ti, óh Deus, suspira a minh'alma..."
E terminava:
"Por que estás abatida óh minh'alma, por que te perturbas dentro em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei."
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