PASSO A PASSO, DE SOL A SOL Segue teu caminho, confie em Deus e não julgue os outros, pois pode ser que, mesmo estando errados, Deus lhes dê nova oportunidade de se arrependerem e voltarem do mau caminho. E você deverá se alegrar com isso!
Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.
sábado, 10 de novembro de 2012
Sem filas
Precisei de serviço público para renovação de minha carteira de motorista e me dirigi então a um lugar chamado "Poupatempo" do governo estadual.
Embora não tenha sido a primeira vez que pisei naquele lugar, me surpreendi com o rápido e bom atendimento que o cidadão recebe ali. Comigo não foi diferente.
Enquanto aguardava sentado em um banco desses de ripas de madeira, charmoso até, para ser atendido, olhava à minha frente um batalhão de atendentes, uns 15 naquele setor, todos uniformizados, com um lenço vermelho para as mulheres contrastando com o branco da camisa e o preto do vestido, com seu monitor e teclado postos à baia.
Todas as mulheres absolutamente vaidosas, com acessórios pelo corpo desde colares e pulseiras até piercings discretos nas mais radicais. Mas todas belas. Pude observar apenas um homem numa baia. Havia muitos outros trabalhando numa correria por trás dos atendentes, pra lá e pra cá.
Fiquei imaginando qual chamaria minha senha para ser atendido. Se eu pudesse escolher qual seria? A mais bonita? A mais simpática? O homem? Fiquei prestando atenção para tentar descobrir qual seria.
Havia uma com traços fortes no rosto, sobrancelhas feitas bem definidas e alinhadas, longos cabelos pretos, batom, olhos negros, grandes e muito redondos. Seu sorriso era fácil e marcante. Conversava com o cidadão atendido e com suas colegas dos dois lados praticamente ao mesmo tempo. Era a mais bonita de fato.
Havia também uma mulher visivelmente cansada, parecia carregar em seu semblante muitas coisas para resolver. Pensando no filho que tem que buscar, ou que tem que passar na casa de sua mãe, talvez o filho já esteja lá esperando, ou seu corpo estivesse mesmo dando sinais de que era hora de descansar. Ainda assim sorria e tirava as dúvidas do senhor que estava sendo atendido. Era do tipo super mulher, certamente cuidava de tudo.
Mas talvez fosse atendido pelo homem, um senhor com certa idade, linhas na testa, olheiras e muito quieto, sequer olhava para o cidadão que era atendido. Talvez faça esse serviço já bons anos.
Vi uma outra atendente, de cabelos médios, loiros naturais, não tinha mais que 22 anos, com pelo menos umas 5 pulseiras barulhentas em cada braço, com unhas que pareciam mais impressas do que pintadas, tal era a perfeição do desenho nelas. Falava pelos cotovelos, batom cor-de-rosa, rímel, tatuagem de uma borboleta ao lado do pescoço e brincos de argola que batiam em suas saboneteiras. Olhava para tudo e para todos o tempo todo. Me flagrou olhando-a. Rapidamente o seu olhar passou por cima de mim como se estivesse procurando alguém mais atrás na minha direção.
Ao seu lado, uma que mais parecia diretora de escola, daquelas bravas, de poucos amigos, muito responsável e de fala clara e objetiva, se esforçava para ficar bonita mas talvez precisasse de alguma orientação e parecia que tinha de fato poucas amigas ali no trabalho, ali não obteria ajuda ou ninguém arriscava dar palpite, dava pra entender. Poderia ser atendido por qualquer um, menos por ela, pensei.
Um som forte, meio surdo, abafado e repetido, gritava de alguma parede insistentemente quando fui tocado nos ombros por um senhor que me disse: "Não é o seu número?"