Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

momento


Pedro Abrunhosa

Uma espécie de céu, um pedaço de mar
Uma mão que doeu, um dia devagar
Um domingo perfeito, uma toalha no chão
Um caminho cansado, um traço de avião
Uma sombra sozinha, uma luz inquieta
Um desvio na rua, uma voz de poeta
Uma garrafa vazia, um cinzeiro apagado
Um hotel na esquina, um sono acordado
Um secreto adeus, um café a fechar
Um aviso na porta, um bilhete no ar
Uma praça aberta, uma rua perdida
Uma noite encantada, para o resto da vida
Pedes-me um momento, agarras as palavras
Escondes-te no tempo, porque o tempo tem asas
Levas a cidade, solta-me o cabelo
Perdes-te comigo, porque o mundo é o momento
Uma estrela infinita, um anúncio discreto 
Uma curva fechada, um poema deserto
Uma cidade distante, um vestido molhado
Uma chuva divina, um desejo apertado
Uma noite esquecida, uma praia qualquer
Um suspiro em segredo, uma duna ancorada
Dois corpos despidos, abraçados no nada
Uma estrela cadente, um olhar que se afasta
Um choro escondido, quando um beijo não basta
Um semáforo aberto, um adeus para sempre
Uma ferida que dói, não por fora por dentro...